Vários doentes em macas no corredor da urgência do Santa Maria

Hospital admite sobrelotação, que faz com que também existam doentes internados provisoriamente em macas nos corredores dos serviços de Medicina. Contudo, assegura que a qualidade dos serviços prestados aos utentes não está em causa.
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Pelo menos há dois dias que há vários doentes em macas no corredor do serviço de urgência do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, bem como nos corredores dos serviços de Medicina, para onde vão os doentes que saem da urgência para receber outros cuidados. Ao DN, o hospital reconhece a situação, mas assegura que está garantida a qualidade da assistência aos utentes.

Segundo o gabinete de comunicação do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), onde se insere o Santa Maria, "os doentes em maca no corredor da urgência, estão sob observação ou em trânsito para os Serviços e/ou Bloco", sendo que "o seu número oscila ao longo do dia e de acordo com a afluência". Esta terça-feira de manhã, por exemplo, o DN soube que estavam oito macas no corredor, e que há situações em que os doentes permanecem ali mais do que 24 horas.

Devido à falta de camas nos vários serviços de Medicina, também há dezenas de doentes internados provisoriamente em macas nos corredores destes serviços. Fonte hospitalar contou ao DN que "além das camas, os serviços de Medicina assumem mais 10 doentes em maca no corredor. É aí que fazem a higiene, almoçam e jantam. Podem passar ali dias e dias, dependendo das altas e da gravidade da situação". Uma "situação recorrente" e que, de acordo com a mesma fonte, "não acontece só nos picos da gripe".

A administração do hospital reconhece que, neste momento, "existe uma sobrelotação nos Serviços de Medicina que determina a necessidade da existência de macas, decorrente do aumento da afluência à urgência motivado pela livre escolha e bem assim pelo número de infeções características do inverno". Contudo, sublinha, "estas vicissitudes não afetam a qualidade dos cuidados assistenciais prestados aos utentes".

Fonte do Santa Maria diz que "os profissionais trabalham no desenrasque, não existindo capacidade para prestar serviços de qualidade, nem conforto aos doentes". No entanto, ressalva, o que se passa no hospital não é um caso isolado. "É uma realidade transversal a Portugal continental. É um tema antigo. Não há planeamento", lamenta.

Todos os anos surgem notícias de doentes internados em macas em vários hospitais do país. Ao DN, Alexandre Lourenço, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), diz que "a questão das macas está relacionada com a capacidade dos hospitais de encaminhar os doentes para internamento". Em causa, explica, está "o afluxo de doentes com mais de 65 anos, multi patologias, que requerem internamento". Nesta altura do ano, regista-se um aumento de 9 para 11% no número de doentes que requerem internamento.

"Os hospitais fazem o maior esforço para garantir a qualidade dos cuidados. Mas não é uma situação desejável ou de qualidade ter doentes em macas. Devemos garantir que os doentes têm o seu resguardo. E a recuperação é completamente diferente de uma situação de internamento", reconhece Alexandre Lourenço.

Segundo o presidente da APAH, os hospitais "continuam a ter muitos casos de internamento social". Há doentes que têm alta clínica, mas não existem respostas sociais na comunidade, o que agrava o problema das macas nos serviços de urgência. "Esta é uma má solução. A solução devia passar por evitar que estes doentes recorram aos serviços de urgência", sublinha.

Na opinião de Alexandre Lourenço, é necessário encontrar respostas sociais para estes doentes, que, em muitos casos, não precisam de cuidados hospitalares. Nos últimos anos, lamenta, não foram implementadas medidas para reduzir a afluência destes doentes, que, no fundo, "são casos sociais que vão parar à urgência". Por um lado, refere, é preciso trabalhar com esses doentes para arranjar soluções, como "a majoração da comparticipação", já que muitos não têm dinheiro para pagar a medicação, o que "aumenta a probabilidade de irem ao serviço de urgência". Por outro, o país deve investir na rede de cuidados cuidados.

A calamidade dos serviços de urgência

Num comunicado enviado às redações, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) disse, esta segunda-feira, que​​​ "se a presença de doentes internados em macas nos serviços de urgência (SU) é uma constante, nas últimas semanas temos vindo a assistir a uma sobrelotação de admissões, exames auxiliares de diagnóstico e internamentos". Segundo a estrutura, "alguns SU 'encerraram' durante horas e em vários dias, recusando doentes e levando, por sua vez, à lotação excessiva nos hospitais contíguos". Uma situação agravada pela "falta de elementos para constituição de equipas e material obsoleto".

Por isso, o SMZS "apela a todos os colegas que exerçam o seu trabalho de acordo com as legis artis e quando esta esteja comprometida declinem qualquer responsabilidade derivada da ineficiência do sistema, ao entregarem a minuta de declínio de responsabilidade civil (para médicos hospitalares ou de família)". Devem, por isso, recusar "assumir quaisquer situações que coloquem em causa a sua segurança e a segurança do doente".

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