Vanguardas comparadas no Museu do Chiado
Que relação se estabeleceu entre a pintura tradicionalista e a vanguarda romena? Como se adaptaram as propostas de ruptura ao sistema comunista? Quais as possibilidades de "fuga" num cenário artístico dominado pelos valores propagandísticos do realismo socialista? Eis as três questões-chave da exposição As Cores da Vanguarda-Arte na Roménia 1910-1950, que hoje se inaugura em Lisboa, no Museu do Chiado.
Produzida pelo Instituto Cultural Romeno e orçada em 223 mil euros, a mostra revela, pela primeira vez em Portugal, as tensões artísticas num país periférico onde coabitaram várias etnias e linguagens pictóricas e de onde saíram alguns dos protagonistas da arte europeia do século XX, como Tristan Tzara, fundador do Dadaísmo, o escritor Mircea Eliade (que viveu em Lisboa), ou Eugene Ionesco.
Provenientes de dez museus romenos, as 65 pinturas que se apresentam no Chiado - e que depois irão para Madrid, Roma e Praga -, dividem-se por quatro núcleos. No primeiro, as questões sociais decorrentes da entrada na I Guerra Mundial (da ocupação alemã à falência do liberalismo económico) ilustram-se pelo confronto entre os modelos tradicionalistas dos camponeses retratados por Ressu, Baltazar, Popea ou Sion, e as formas estilhaçadas de Brauner ou Janco, dois dos artistas que maior projecção internacional tiveram.
No segundo núcleo, dedicado às Utopias da Identidade, mostra-se, diz o comissário, Erwin Kessler, "como a cena artística entra no jogo [conservador, nos temas] dos coleccionadores", através de obras de Brauner (Adão e Eva), Pallady ou Maxy (Nu Deitado).
A terceira parte recupera as linguagens específicas das minorias húngara (com as paisagens de Nagbanya segundo Ziffer ou Szolnay) e alemã (com as influências expressionistas de Eder). Também aqui estão as pinturas cubistas de Michailescu e as naturezas-mortas abstractas de Mattis-Teutsch.
Já no núcleo O Fim da Estrada é exibida a última obra de Brauner antes de partir para Paris (A Chama Azul, de 1934), e pinturas de Mattis-Teutsch, Maxy e Popescu que espelham o peso da propaganda e "o imobilismo na arte" dos anos 50/60. "Tuculescu, com cores fortes, síntese poderosa e pesquisas sincrónicas às do grupo Cobra na Dinamarca, é então o único que inova", conclui o comissário.