Van Cleef & Arpels. Da Place Vendôme para a Avenida da Liberdade

Cinco anos após os primeiros contactos e uma pandemia depois, a Van Cleef & Arpels inaugura a primeira loja em solo nacional.
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Se ao entrar no número 204 da Avenida da Liberdade, morada da Van Cleef & Arpels em Lisboa, o olhar for atraído para o colar de pérolas e fecho de rubis, é mais do que natural. A peça de alta joalharia impõe-se entre as demais: não faz parte de nenhuma das coleções habituais da marca francesa, é única e vale 900 mil euros (sem impostos). Traduz o espírito da joalheira - uma história de 115 anos, "espírito de família, atenção ao cliente, exclusividade e savoir faire", como resume o presidente da companhia para a Europa, Guy Chatillon.

Uma aprendizagem lenta e apurada está por trás do resultado, usando uma técnica conhecida como "mystery setting". Apenas cinco pessoas a dominam no mundo - chamam-lhes Main d"Or (Mãos de Ouro) e passam o seu saber também lenta e minuciosamente. Este colar demorou dois anos a ficar pronto, entre selecionar pedras preciosas, o corte, polir, e reunir, pedra a pedra, sem cola ou truques, a peça final, produzida no atelier da maison no primeiro andar da Place Vendôme, em Paris, por cima da primeira loja da marca.

A técnica usada foi patenteada em 1933, quando a joalheria Van Cleef & Arpels contava 27 anos de vida e a direção artística estava entregue à filha de Alfred Van Cleef e Estelle Arpels, Renée Puissant, e ao artista René Lacaze. Neste período, entre guerras, nascem algumas peças emblemáticas da "maison" como o Le Minaudière, criado de propósito para a socialite milionária Florence Gould, mas inspirado na mulher do fundador, ou o colar ziper, que nasceu da colaboração entre René Lacaze e a duquesa de Windsor, Wallis Simpson, uma amiga da casa. "Uma das minhas preferidas porque mostra como a marca pode trabalhar com o cliente", diz Guy Chatillon.

Quando se casam, em 1895, Alfred Van Cleef e Estelle Arpels unem duas famílias com tradição no mercado das pedras preciosas. O pai dela comercializa-as, o dele é um conhecido lapidário. Alfred e o sogro fundam a empresa e é com a sua morte que entram em cena os irmãos Arpels - e abrem a loja da Place Vendôme, à frente do Hotel Ritz.

Na entrada da segunda década do século XXI, e já nas mãos do conglomerado de marcas de luxo Richemont, a Van Cleef & Arpels começou uma estratégia de internacionalização da marca com as suas lojas espalhadas pelo mundo. São agora 147 - Lisboa abre depois de uma inauguração na China (há um mês e meio) e antes da próxima loja nos EUA. No Médio Oriente estão a fazer uma renovação. estão a renovar a flagship store.

"Não damos mais atenção a um mercado ou outro, procuramos equilíbrio", diz o presidente da companhia para a Europa, CEI e Médio Oriente da Van Cleef & Arpels, em entrevista ao DN.

As primeiras conversas entre a marca francesa e o empresário David Kolinski, que representa em Portugal a Van Cleef & Arpels, começaram há cinco anos com vista à abertura da primeira loja - a marca só pode ser encontrada em lojas monomarca. Seguiu-se um processo de seleção do local, nitidamente a Avenida da Liberdade - "todas as cidades têm uma rua assim" - o lado certo (também há um em todas as cidades) e "a vibração certa". A pandemia pode ter demorado o processo mas não o deteve, diz. "Estamos aqui para o longo prazo", diz o presidente para a Europa, há 30 anos ligado ao mercado do luxo. Esta quarta-feira, 14 de julho, dia da França, país de origem da Van Cleef & Arpels, as portas abriram-se.

O ambiente é de festa, circulam bebidas, vizinhos aparecem para dar as boas-vindas e a harpista toca uma música suave que embala a visita ao espaço, pensado para levar os clientes a um luxuoso apartamento parisiense, com painéis Art Deco em ferro forjado e armários de inspiração japonesa - podia ser a casa do senhor Calouste Gulbenkian no número 51 da Avenue d" Iéna. "É um apartamento elegante e confortável, esse é o nosso conceito em todo o mundo, que os nossos clientes se sintam em casa, depois cada cidade tem a sua especificidade".

Guy Chatillon diz que esta é uma loja para locais, e, frisa, a Van Cleef & Arpels posiciona-se como sendo "exclusiva, mas acessível, de proximidade" com os clientes (di-lo várias vezes). "Queremos ser fiéis à nossa identidade, não correr atrás das tendências", afiança. Como nos primeiros tempos, a natureza continua a ser importante fonte de inspiração. "É da natureza que vêm ouro e pedras preciosas, temos de respeitar, não como tendência mas como valor", refere.

As coleções mais célebres da Van Cleef & Arpels estão todas por aqui: butterfly, perlée, frivole (folhas assimétricas que formam um coração) e alhambra, algumas das mais icónicas da história da Maison. Cruzam-se umas com as outras dando uma pista sobre um dos lemas da Van Cleef & Arpels: todas as combinações são possíveis. Ao fundo, salas privadas, a seleção de anéis de noivado e casamento e, entre ambas, o bar. Portugal é o primeiro país da Europa em que a loja Van Cleef & Arpels tem um bar (conceito idêntico só pode ser encontrado nos EUA e em Sydney).

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