Vampiros modernos na noite arruinada de Detroit

Jim Jarmusch reinventa o filme de vampiros em Só os Amantes Sobrevivem (estreia-se amanhã nas salas portuguesas), uma meditação crepuscular e irónica sobre os tempos atuais
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Acerca de Só os Amantes Sobrevivem, a 11.ª longa-metragem de ficção de Jim Jarmusch, pioneiro do cinema indie americano no ativo desde 1980, é tentador dizer-se que é mais original do que filmes como Crepúsculo ou a série televisiva Sangue Fresco (o que é bem verdade). Contudo, esta reinvenção do filme de vampiros não constitui nenhum gesto "revolucionário" ou de uma originalidade sem par. Basta lembrar, por exemplo, que Abel Ferrara já injetou "sangue novo" no género em Os Viciosos (1995) - no tempo em que ainda era um cineasta interessante. Jim Jarmusch, esse, apesar dos seus 61 anos, continua em boa forma artística. Isto apesar de o seu novo filme retratar um casal de vampiros "centenários" um pouco cansados da vida e, sobretudo, desencantados com o mundo moderno.

O filme centra-se em Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton), um casal de vampiros cujo mínimo que se pode dizer acerca do seu amor é que resistiu ao tempo. Eles estão juntos literalmente "há séculos", e a sua ligação é tão grande que dispensa mesmo a coabitação. Tom, uma alma antiga mas com menos "uns séculos" do que Eve, é um músico de indie rock abastado e famoso que vive recluso na sua casa em Detroit (o cenário urbano ideal para valer como correlato da sua falência espiritual). Temendo que o amado ceda aos demónios da melancolia, Eve, que vive em Tânger e fala com Tom através do Skype instalado no seu iPhone, apanha um voo noturno para lhe fazer companhia e lhe dar o ânimo necessário. Mas entretanto o refúgio conjugal é invadido por Ava (Mia Wasikowska), a impulsiva irmã mais nova de Eve.

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