Vamos falar sobre a menopausa

O Dia Mundial da Menopausa, que se celebra hoje, deve servir para nos lembrar que esta é uma fase natural da vida da mulher. Falar sobre o assunto faz com que deixe de ser um tema tabu e contribui para melhorar a saúde e a qualidade de vida das mulheres.
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A menopausa acontece porque os nossos ovários esgotam o património genético e a função de reprodução. Como consequência, os níveis da principal hormona feminina, os estrogénios, vão baixar. Não são necessários alarmismos. Esta é uma fase natural da vida da mulher.

Os sintomas iniciais da baixa hormonal podem atingir 80% das mulheres e vão ser sentidos com o que chamamos de "sintomas vasomotores", as vulgares ondas de calor que em 15% dos casos têm muito impacto, condicionando fortemente a qualidade de vida.

Também poderá existir alterações do sono, irritabilidade, alterações na memória e diminuição da libido. Paralelamente a estes sintomas, podem ocorrer alterações no ciclo menstrual, com períodos de atraso ou falta de menstruação.

O nosso metabolismo fica mais lento e o aumento de peso, com a acumulação de gordura abdominal, tende a ser um inimigo declarado da mulher. Também os órgãos genitais irão refletir a falta das hormonas femininas e podem surgir sintomas de desconforto, dor com as relações sexuais e incontinência urinária.

A mulher, quando entra na menopausa, corre mais risco de ter doença cardiovascular, que é a principal causa de morte nesta idade. Mais tarde na vida, a osteoporose, que é uma doença insidiosa, sem sintomas, vai-se instalando, transformando-se numa causa de morbilidade e mortalidade importante.

Pela frequência com que escuto estes sintomas na consulta, fui sentindo a constante necessidade de estudar de novo o tema, não aceitando que não existam alternativas disponíveis, para tão impactante alteração hormonal. Congratulo-me com o que encontro, com o interesse crescente da comunidade científica, com as novas ofertas terapêuticas para as mulheres na transição para a menopausa e na pós-menopausa.

A aceitação desta fase e das mudanças inerentes, constituem o princípio de uma viagem que só pode ser de sucesso. As mulheres que atingem a menopausa, só por isso são afortunadas, significa que já tem uma vida repleta para trás. Já passaram por várias fases hormonais e esta não é senão uma outra fase.

Juntamente com os sintomas, surgem inevitavelmente receios, dúvidas e mesmo revolta e zanga - que não podemos ignorar. Muitas senhoras, na consulta, dizem-me que "estão acabadas", ficam deprimidas e sem esperança. Não é verdade, temos ainda grande parte da nossa vida para viver. Estamos apenas num momento de mudança e precisamos de saber ultrapassá-la, adaptarmo-nos para atingirmos o equilíbrio. Nós somos a mesma mulher, mas numa fase diferente.

Falar sobre menopausa deve ser um ponto de conversa nas consultas com o seu ginecologista. Procure compreender que mudanças o seu corpo poderá sentir, para que as possa identificar e juntos encontrem qual a melhor estratégia para lidar com esta nova fase.

Para nos ajudar, temos a terapêutica hormonal e não hormonal. A nossa sociedade vive ainda a "hormonofobia". É necessário desmistificar a terapêutica hormonal, utilizando-a para tratar sintomas e não para repor níveis hormonais. Não estamos a evitar o envelhecimento, até porque não conseguimos lutar contra a natureza, há que aceitá-la. Os tratamentos servem para nos ajudar a envelhecer de forma saudável.

A "terapêutica modeladora", essa sim, pode ser perigosa. Não é verdade que cada uma de nós necessita de uma dose de hormona manipulada, porque se assim fosse também tínhamos de ter manipulado outras hormonas, como por exemplo a pílula contraceptiva ou a hormona tiroideia, ajustadas a cada mulher. A terapêutica hormonal aprovada, certificada, também é individualizada nas doses e via de administração.

Tão importante como a terapêutica instituída é a consciencialização da necessidade de alterar ou apenas ajustar estilos de vida, sempre com uma alimentação regrada, a prática de exercício físico e um sono reparador.

O Dia da Menopausa, que celebramos hoje, deve servir para nos relembrar, a todos, da importância desta fase da vida da mulher. Falar sobre menopausa faz com que deixe de ser um tema tabu, contribuindo assim para melhorar a saúde, o envelhecimento e a qualidade de vida de tantas mulheres.

Ginecologista - Obstetra no Hospital CUF Descobertas e na Clínica CUF Alvalade

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