Valentim de Carvalho troca EMI por editora comprada pela SIC
Amália Rodrigues, Carlos Paredes, Quarteto 1111 e primeiras gravações de José Cid a solo, os primeiros discos de Rui Veloso e GNR, o primeiro álbum de António Variações, um vasto catálogo de referência na área do fado, todas elas gravações até 1983, vão deixar de ser comercializadas pela EMI, terminando assim a mais antiga e frutuosa relação de editoras na história da música portuguesa.
Todo o catálogo da Valentim de Carvalho (VC), que tem entre os artistas activos nomes como Boss AC, Mind da Gap e Wray Gunn, foi licenciado à Som Livre, editora recentemente adquirida pela SIC, num acordo de cinco anos que prevê, também, a exploração de novas tecnologias ao serviço do que, em comunicado é descrito como "a melhor alternativa de desenvolvimento disponível no mercado da música portuguesa".
David Ferreira, da EMI Music Portugal, confirmou ao DN o fim do acordo, mas escusou-se a comentar o seu significado. Já Eurico Nobre, responsável pelo marketing estratégico da EMI, explicou que, sendo a VC "uma das casas de referência da música portuguesa, só isso explica a perda que é", acrescentando que falar do catálogo que agora abandona "é falar da própria história da música portuguesa".
Para Paula Homem, uma das profissionais ao leme da VC, a decisão de licenciar o catálogo à Som Livre deveu-se a vários factores, um deles a editora ser hoje cem por cento detida pela SIC, estação "que tem três canais, que está a apostar na música e quer desenvolver artistas", explicou ao DN, afirmando que, juntos, Som Livre e Valentim de Carvalho podem "ser imbatíveis a nível de catálogo nacional". Paula Homem confirmou que vai continuar a assinar novos artistas: "Nós gravamos e a Som Livre trabalha o marketing."
A aposta no desenvolvimento de novos artistas e formas de venda de música é clara intenção desta nova parceria. Segundo o comunicado que oficialmente anunciou o acordo, "a Valentim de Carvalho, fiel à sua tradição de pesquisa e desenvolvimento, assegura a coordenação dos serviços artísticos de uma nova etiqueta especialmente vocacionada para novos artistas". O mesmo termina expressando "confiança no futuro da música portuguesa que ambos querem servir".
A gestão do fundo de catálogo da VC (com gravações que remontam aos anos 20) vai gerar uma série de reedições, num plano de lançamentos cuja agenda está a ser preparada. Paula Homem lembra ainda que, "independentemente da EMI ter lançado parte do catálogo da VC, há nele ainda muito para explorar", deixando crer que, certamente, começarão a chegar a suporte digital muitas gravações dos dias do vinil até hoje ainda sem lançamento em CD. Por seu lado, os actuais títulos do catálogo VC editados sob o licenciamento à EMI manter-se-ão nas lojas até ser vendidos.
A ligação entre a EMI e a VC remonta a 1940, quando o catálogo da multinacional inglesa foi licenciado à editora criada por Valentim de Carvalho. Em 1983, novo negócio gerou a jointventure EMI-Valentim de Carvalho. Um novo acordo, em 1994, atribuiu à EMI o licenciamento do catálogo VC. E assim foi, até 31 de Janeiro deste ano.
No mais recente levantamento de mercado (correspondente ao primeiro semestre de 2006), pela Associação Fonográfica Portuguesa, a EMI detinha 17,38% das vendas de música portuguesa (número que incluía o licenciamento de registos da VC anteriores a 1983). No mesmo levantamento a Som Livre somou 14,39% e os discos, fora de licenciamento, da VC, 2,0%.