Valente Marques: "Vamos investir mais um milhão em bolachas de arroz"
Como caracteriza o crescimento do negócio ao longo destes 45 anos que fazem a história da empresa?
É uma longa história. A empresa foi criada em 1971 pelo meu pai, que entrou no negócio dos cereais. Mas é só em 1975 que se dá a grande explosão com o fim da contingentação industrial que existia com o anterior regime. Foi nesse ano que se construiu a primeira unidade de transformação de arroz. A partir daí tem sido sempre a crescer.
O que mudou na maneira de se fazer arroz, desde o tempo dos moinhos, onde tudo começou, até hoje?
No essencial o que mudou foi muito pouco. No passado, o descasque e o branqueamento do arroz era feito com moinhos de água e, mais tarde, com moinhos elétricos. Hoje utilizamos maquinaria mais sofisticada, mas o princípio é sempre o mesmo: o desgaste dos grãos para obter um arroz mais branco.
Na década de 1980 a empresa realizou um grande investimento tecnológico...
Sim, foi outro grande investimento na primeira unidade de arroz vaporizado, que ainda hoje se mantém como a única unidade que existe em Portugal. Na altura tratou-se de um investimento de dois milhões de euros, o que era muito significativo para a época. Depois, em 1991, com o crescimento das vendas ao longo dos anos, tivemos de fazer uma remodelação grande, em termos do parque industrial. Renovámos toda a área de fabrico e embalamento e nisso investimos cerca de cinco milhões de euros.
Isso quer dizer que tem havido um ritmo constante de crescimento e de quota de mercado?
Sim, felizmente temos registado um crescimento contínuo. Isso também é consequência do grande esforço que fazemos na melhoria constante dos nossos produtos. Esse é o nosso lema: que os consumidores tenham confiança nos produtos Caçarola. Este ano voltamos a ter um crescimento muito significativo em torno dos 13,2%. Num mercado maduro como este, pode considerar-se interessante.
Quando começou a vossa estratégia de internacionalização? E como estão as exportações?
A nossa estratégia de internacionalização começou em 2009/2010 essencialmente para o chamado "mercado da saudade". Antes não era fácil abordar os mercados externos com as nossas condições concorrenciais. Virámo-nos para Angola e Cabo Verde. Nestes dois últimos anos temos feito esforço para procurar novos mercados, como, por exemplo, nos países árabes. São mercados grandes e com bastante interesse no arroz carolino. Temos participado em grandes feiras, em Istambul, na Turquia, Colónia, na Alemanha e, este ano, no Dubai. Isso tem-nos aberto as portas para este mercado. E as perspetivas são boas para os próximos anos.
Como se distribuem as vendas pelos diversos mercados? Qual o mercado com maior peso?
O mercado com maior peso é o europeu, é o chamado mercado da saudade, que representa 8% de quota de mercado nas nossas exportações. No total exportamos 12% daquilo que produzimos.
E estamos a falar de que volume de negócios?
Significa qualquer coisa à volta dos 4,5 milhões de euros.
Disse que há novos mercados que estão a estudar? Este é um plano a curto prazo?
É um plano que temos para implementar até 2020. Vamos investir fortemente, por exemplo, numa campanha publicitária na TV, que estamos a desenvolver para alguns destes mercados, com a perspetiva de aumentar as vendas.
Tem novos investimentos em perspetiva em infraestruturas ou produtos?
Temos a nível de promoção internacional. Depois novo investimento na área das bolachas de arroz, as crackies, área em que queremos aumentar a capacidade de produção. Tem sido um negócio que ultrapassou a nossa expectativa. Vamos investir em máquinas para produzir bolachas com chocolate negro e aumentar a capacidade de produção para as bolachas já existentes.
Qual o valor desse investimento?
Vai representar cerca de um milhão de euros.
Quais os principais constrangimentos do setor?
Uma das grandes dificuldades foi o aumento da concentração da distribuição alimentar. Os clientes são poucos e esmagam as margens. Pressionam bastante os preços para baixo com as constantes campanhas que têm. Por isso também a nossa aposta na exportação.
Qual a aposta da empresa em investigação & desenvolvimento? Têm novos produtos na calha?
Nós estamos com alguns projetos, mas ainda é um pouco cedo para falar disso. No arroz. Temos algumas apostas para o futuro e com alguns parceiros. São investigações que requerem investimento elevado e capacidade produtiva.
Essa investigação pode passar pelo aproveitamento do farelo para fins de cosmética?
Pode passar por isso e também por outras, mas não podemos adiantar muito.
Porque sentiram a necessidade de diversificar para outros produtos, como os legumes, massas e crackies?
Esta necessidade de diversificar verificou-se pela concentração do mercado em alguns setores. As bolachas de arroz e de milho, as crackies, foram uma oportunidade. Este mercado estava em franco crescimento e Portugal não tinha produção própria. Criámos uma unidade e a marca Crackies de arroz e de milho está a ter bastante sucesso. Insere-se no âmbito da nossa preocupação com a alimentação saudável.
Quanto representa cada componente para o negócio total?
O arroz continua a representar a maior fatia do volume de negócios, mas este segmento pesa cerca de 15% do nosso mercado. São produtos que têm evoluído bastante bem. Queremos produtos que façam parte da nossa dieta mediterrânica. Tem tido crescimentos interessantes e como é muito rica, todos estes produtos são ótimos e saudáveis.
Tem parcerias com outras empresas?
Estamos juntos com a Nova Arroz e a Orivarzea para o desenvolvimento de novos produtos alimentares e não alimentares.
Qual é a estrutura da empresa?
A nossa estrutura é familiar. No ano passado deu entrada a terceira geração na empresa. Fazemos parte de uma organização de produtores, a Denagro, onde temos cerca de 60 produtores associados com uma produção de 19 mil toneladas. E paralelamente temos outra empresa que criámos para importar, em conjunto com Vítor Rouxinol. Dedica-se às sementes de arroz e à distribuição pelos nossos produtores, para além de fazer o aconselhamento, para um controlo desde a produção até ao fabrico.
Qual é a estratégia empresarial para os próximos anos?
Continuar a crescer e fazer novos investimentos na área das crackies. O nosso objetivo era manter o crescimento do ano anterior, que foi em torno dos 13,2%.
Quais as novas tendências de mercado? As modas influenciam a produção?
Há algumas tendências. Por exemplo, o sushi que está muito na moda, os arrozes exóticos, como basmati, thai e selvagens. Estas tendências têm, de certa forma, influenciado a nossa produção. Há algum apetite para produzir estas variedades para acompanhar as tendências.
Como analisa o estado do setor?
Tem andado bem, apesar das dificuldades do excesso de concentração, mas tem-se mantido saudável e as empresas são sustentáveis.
Que investimentos fizeram nos últimos anos e que planos existem para o futuro?
Nos últimos 4/5 anos realizámos um plano de investimentos de seis milhões de euros. E prevemos investir entre um e dois milhões nos próximos dois anos.
Que quantidade de pessoal empregam?
Temos 83 colaboradores a trabalhar connosco. Estamos sempre à procura de gente com melhor formação. Temos seis pessoas na área da engenharia alimentar e técnicos qualificados.
O gestor
António Valente Marques, Presidente da Valente Marques, SA. 58 anos. Da região de Oliveira de Azeméis, deixou de estudar para se dedicar à vida empresarial, desde novo. Tal como os seus ascendentes, fez a sua formação comercial e industrial no setor do arroz, em torno da marca Caçarola, e avançou para novos produtos
A empresa
Valente Marques,SA: É uma empresa de estrutura familiar que já vai na terceira geração de gestores.A empresa fatura cerca de 4,5 milhões de euros, colocando cerca de 12% da produção nos mercados externos. Emprega 83 colaboradores e regista crescimentos de 13% nas vendas.