Vacinação no Chile

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A 23 de dezembro de 2020, o Presidente da República do Chile, Sebastián Piñera, informou o país que a equipa do governo propôs como meta vacinar toda a população de risco, 5 milhões de pessoas, durante o primeiro trimestre de 2021.

A 16 de Março, o objetivo de vacinar 5 milhões de pessoas foi cumprido antecipadamente. Agora vamos para a segunda meta, ou seja, que 15 milhões de pessoas (80% da população) sejam vacinadas até o final do próximo mês de Junho, atingindo desta maneira a imunidade de grupo.

Há poucos dias, a plataforma Our World in Data, da Universidade de Oxford, informou que o Chile tornou-se o país que vacinava mais rapidamente no mundo, superando Israel, com uma média de 1,08 doses diárias por 100 habitantes. Até à data, o Chile conta com 11 milhões de doses (da Sinovac e da Pfizer-BioNTech) e em breve receberá mais 4 milhões. No total, o Chile garantiu 35 milhões de doses para completar o processo nacional de inoculação. Mas não chega! Uma coisa é ter as vacinas, outra coisa é aplicá-las nos braços dos homens e das mulheres de todo o país.

Como se explica o sucesso do Chile no seu plano de vacinação, considerando que é um país pequeno, com 18 milhões de habitantes e em vias de desenvolvimento, inserido numa das regiões mais afetadas pela COVID-19, com uma população distribuída pelos seus mais de 4 000 km de território e que está localizado a uma grande distância dos centros de produção de vacinas?

As pessoas perguntam, por exemplo, como é que em dois dias (10 e 11 de Março) quase 800 mil cidadãos foram vacinados no Chile?

Em poucas palavras, eu diria que neste resultado positivo se conjugam algumas causas. A primeira é a liderança clara, determinada e oportuna do Presidente Piñera e da sua equipa de governo.

A liderança implicou a análise da qualidade das vacinas, solicitando o estudo de diferentes universidades públicas e privadas, conversando pessoalmente com os presidentes dos países e com os altos executivos dos laboratórios, convocando e reunindo-se com as diferentes organizações sociais, deixando de lado interesses políticos e ideológicos. Liderança para aproveitar, sem dúvida, a vasta experiência do Chile neste tipo de operação e a sua extensa rede de cuidados de saúde primários. Desde 1887, o Chile conta com processos de vacinação obrigatória e uma instituição responsável pela distribuição de vacinas, que foi evoluindo ao longo do tempo, até a criação, no primeiro governo do Presidente Piñera, do Departamento de Imunizações (2011), a cargo do Programa Nacional de Imunização e o Registro Nacional de Imunizações, datado da década de 1970.

A aposta acertada feita pelo Presidente do Chile, nos meses de Abril e Maio de 2020, de correr o risco de iniciar negociações e conseguir compromissos com alguns laboratórios que estavam a desenvolver vacinas, foi apoiada pelos estudos da comunidade científica do Chile. Certamente um elemento fundamental foi a imagem do Chile e a sua credibilidade no momento de fechar os acordos. O Chile é um país confiável, respeitador do direito internacional, de finanças públicas ordenadas, com capacidade para cumprir as suas obrigações, impecavelmente valorizado no mundo inteiro.

A decisão do Presidente Piñera e a eficácia negociadora do seu governo foram cruciais, sobretudo depois do agravamento dos casos no Chile devido a uma nova onda de contágios, já que uma forma real de controlar a pandemia é contar com uma grande percentagem da população vacinada.

Outro fator fundamental para o sucesso do nosso plano de vacinação tem sido a unidade nacional e a coordenação institucional que foi concebida para executá-lo. Graças a um esforço do país como um todo, que contou com a participação dos setores público e privado e da comunidade científica, foi possível que a rede logística de distribuição e inoculação massiva de vacinas (com mais de 1 700 pontos de vacinação), o calendário e a monitorização centralizada funcionem eficientemente e que não tenhamos que lamentar atrasos ou casos de inoculações indevidas, saltando filas ou introduzindo variáveis políticas, ideológicas de caráter populista.

Estabeleceram-se critérios e princípios claros. O processo de vacinação seria UNIVERSAL, VOLUNTÁRIO, GRATUITO, ESTATAL e SOLIDÁRIO.

Pela sua parte, os cidadãos responderam positivamente ao apelo à vacinação e valorizaram a estratégia nacional de inoculação. Refira-se que o acesso às vacinas baseia-se nos princípios da universalidade e da gratuidade, em virtude dos quais nenhuma causa, como a situação económica de uma pessoa, deve influenciar quem as recebe e por que ordem as recebe. No nosso país têm direito a receber a vacina tanto os chilenos como os imigrantes legalizados residentes.

Mas o Chile não está preocupado apenas com a vacinação da sua população. Custa pouco ou nada sair e gritar para o mundo que tem que se ser solidário, que tem que se ser justo, que tem que se ser bom com o resto do mundo.

Os chilenos estão convencidos, por princípio e também porque a própria realidade o impõe, de que não se sai sozinho desta pandemia. É por isso que saímos para acompanhar, com todas as nossas forças possíveis, os países irmãos da nossa região latino-americana. Prova disso é a ajuda humanitária que o Chile prestou ao Equador e ao Paraguai, através da doação de um carregamento de vacinas para o seu pessoal médico da linha da frente; a transferência de vacinas da China para o Uruguai, entre outras ações.

Nada foi fácil, a humanidade vive momentos trágicos que nunca tinha experimentado. Embora o processo de vacinação no Chile esteja bem encaminhado, sabemos que não poderemos combater a pandemia sozinhos. Durante o último ano, vimos que as respostas individuais não são suficientes. A pandemia é um desafio global, que também requer respostas coletivas e um esforço colaborativo dos países e de toda a comunidade internacional, para partilhar experiências e encontrar novas soluções que permitam erradicá-la e, assim, conseguir a tão desejada nova normalidade.

Para isso, e como é evidente para o nosso país, a próxima pandemia deve encontrar uma comunidade internacional organizada, com estruturas robustas. Para isso, os países devem organizar-se e unir os esforços Públicos e Privados e trabalhar sob uma liderança para que o Estado se prepare e atue em rede.

É um dever absoluto incorporar a comunidade científica, a opinião especializada, as pessoas que têm conhecimento sobre estes assuntos, na elaboração e na DIVULGAÇÃO e na IMPLEMENTAÇÃO das políticas para conseguir a máxima credibilidade.

Por fim, tentar retirar da controvérsia política tudo o que está relacionado com a pandemia, como tenta fazer Portugal, este país maravilhoso que nos acolhe, ou seja, que a resposta do país seja uma resposta unida e não uma resposta dividida por motivos políticos.

Com fé, esperança, humildade e um trabalho oportuno e bem feito, os chilenos querem colaborar com os que mais necessitam, para superar estes tempos difíceis que o planeta vive.

Embaixador do Chile

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