Vacina para cancro do colo do útero já em 2007

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A primeira vacina contra o cancro do colo do útero, que todos os dias mata 40 mulheres na Europa, poderá estar disponível já em 2007. Segundo especialistas reunidos ontem em Paris, na Conferência Europeia do Cancro, a vacina contra quatro tipos do papilomavírus humano (HPV) - dois deles responsáveis por 70% dos casos - deverá ser administrada às adolescentes até aos 15 anos que ainda não tenham iniciado a vida sexual. Os ensaios clínicos estão na fase final, mas ainda não há consenso sobre os custos, a idade recomendável ou se os rapazes também devem ser vacinados.

De acordo com os dados apresentados, o cancro do colo do útero é o segundo mais frequente nas mulheres em todo o mundo. Segundo Ole-Erik Iversen, do Hospital de Haukeland, na Noruega, "se não houver melhorias dramáticas a nível da prevenção, prevê-se que até 2050 o número de novos casos passe a ser de um milhão em cada ano" - o dobro dos registados actualmente.

A tendência poderá ser invertida com uma vacina contra o HVP. Como explicou Nubia Muñoz, que durante 30 anos dirigiu as unidades epidemiológicas da International Agency for Research in Cancer em França, as infecções por HVP são muito comuns, estimando-se que "mais de 70% das pessoas com uma vida sexual activa contraiam pelo menos uma infecção deste tipo". A esmagadora maioria destas infecções é contrololada pelo nosso sistema imunitário e quase inofensiva, mas cerca de 20% tornam-se crónicas e podem originar cancro, sobretudo se associados a outros factores, como os genéticos ou o tabagismo.

A hipótese de actuar na prevenção primária surge com a descoberta de duas vacinas, uma contra os subtipos de HVP 6, 11, 16 e 18 e outra contra os 16 e 18. Os estudos, na fase final, demonstram serem 100% eficazes na prevenção de lesões pré-cancerígenas e adenocarcinomas não invasivos do colo do útero.

Para o sueco Sven-Erik Olsson, ginecologista do Danderyd Hospital, do Karolinska Institutet, em Estocolmo, "o ideal será administrar a vacina a raparigas entre os dez e os 15 anos" e inseri-la nos programas nacionais de vacinação, já que os jovens iniciam a vida sexual cada vez mais cedo e a doença atinge mais mulheres europeias entre os 25 e os 44 anos. Embora não haja consenso, o médico defende que a vacinação se estenda aos rapazes, porque podem contrair cancros genitais, associados ao HVP, mas sobretudo porque podem vir a ser vectores de transmissão do vírus às parceiras. Apesar das promessas trazidas pela vacinação, não há dúvidas de que esta deve ser acompanhada pela melhoria dos rastreios, uma área onde, na Europa, "há ainda muito a fazer". Sobretudo quando na Noruega, por exemplo, 60% dos casos de cancro invasivo do colo do útero ocorrem nos 15% de mulheres que não frequentam o programa nacional.

De acordo com a Sanofi Pasteur, responsável por uma das vacinas em estudo - a outra está a ser desenvolvida pela GSK - "o preço ainda não foi determinado, mas será diferente do das vacinas comuns". O que leva especialistas a temerem que a inovação se torne privilégio de ricos, já que é nas nações em desenvolvimento - onde os rastreios, quando existem, são muito pouco eficazes - que a doença assume uma dimensão mais preocupante. Segundo Mike Watson, da Sanofi Pasteur, na Europa os dossiers com o pedido de regulação deverão ser submetidos às autoridades "até ao final do ano", esperando-se que no início de 2007 a vacina esteja disponível.

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