Vacina contra o VIH entra na fase final dos testes pela primeira vez em mais de 10 anos
Uma potencial vacina contra Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), responsável pela SIDA, entra na fase final dos ensaios clínicos. É a primeira vez em mais de 10 anos que a vacina chega à Fase 3 dos testes, a última antes da aprovação das entidades reguladoras. A vacina está a ser desenvolvida pela farmacêutica Janssen Pharmaceuticals, que faz parte do grupo Johnson & Johnson. Em Portugal, os casos de infeção pelo VIH desceram quase 30% em 2019 face a 2018, registando-se 778 diagnósticos, segundo o relatório "Infeção VIH e SIDA em Portugal - 2020", da Direção-Geral da Saúde (DGS) e Instituto de Saúde Dr. Ricardo Jorge.
Antonio Fernández, investigador da farmacêutica, citado pelo El País, explica que esta vacina contra o VIH usa a mesma tecnologia que a empresa tem utilizado na sua vacina contra a covid-19. Ou seja, um adenovírus modificado para transportar ao interior das células do sujeito o ADN das suas proteínas mais representativas para que o organismo crie anticorpos contra elas. São, na realidade, duas variantes da vacina, diz o especialista. Uma codificada com três proteínas e outra com quatro, denominadas de mosaico.
Estes fármacos passaram pelos testes de segurança e demonstraram gerar anticorpos, como revela o artigo publicado na revista especializada The Lancet. Agora vão ser testadas em ambiente real, um estudo que poderá durar entre 24 a 36 meses.
Para a Fase 3 dos ensaios clínicos já começaram a ser recrutados voluntários. No total, vão ser 3800 pessoas em todo o mundo que vão testar esta potencial vacina contra o VIH , responsável pela SIDA, síndrome de imunodeficiência adquirida, conforme explica a Direção-geral da Saúde (DGS). O vírus "ataca e destrói o sistema imunitário do nosso organismo, isto é, destrói os mecanismos de defesa que nos protegem de doenças", lê-se no site da DGS.
Há mais de uma década, em 2009, os testes da Fase 3 de uma potencial vacina contra o VIH falharam, uma vez que o fármaco desenvolvido na altura apenas evitava 30% das infeções por VIH. A razão da dificuldade em encontrar uma vacina deve-se ao facto de se tratar de um vírus que tem uma grande variabilidade, muda de características e "escapa" quando é confrontado com as células do sistema imunitário, explica José Moltó, da Fundação de Luta contra a SIDA, com sede em Barcelona, um dos médicos que vai participar nesta nova fase de testes.
Aliás, explica este médico, a razão pela qual os tratamentos antivirais começaram a ser eficazes há 25 anos prende-se com o facto de ter existido a combinação de vários, que conseguiram interromper o ciclo de reprodução do vírus.
Até 31 de dezembro de 2019, foram identificados em Portugal 61 433 casos de infeção por VIH, dos quais 22 835 atingiram o estádio de SIDA, revela o relatório "Infeção VIH e SIDA em Portugal - 2020", produzido pela DGS e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.