Uns Mundiais de atletismo sob forte vigilância
A corrida ao ouro ainda atiça as tentações, como mostra o controlo positivo de Steve Mullings, surpreendido durante os Campeonatos jamaicanos enquanto se afigurava esta época como mais um caribenho a poder lutar por um lugar nos pódios dos 100 e 200 metros, atrás de Usain Bolt e Asafa Powel.
A Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) não faz o papel de avestruz com a cabeça na areia em matéria de luta contra a dopagem e, a um ano de Londres 2012, o desporto rei dos Jogos Olímpicos de verão planeou fazer as coisas em grande na Coreia do Sul.
Entre a chegada à aldeia dos atletas e o fim da competição, cada um dos 2000 participantes será submetido a um teste sanguíneo, à imagem das amostras colhidas aos ciclistas das Voltas à França 48h antes do início da principal corrida do ciclismo mundial.
Contrariamente aos anteriores Campeonatos do Mundo, em Berlim 2009, onde os testes sanguíneos visaram sobretudo as provas de resistência, este ano em Daegu todos os atletas, de todas as disciplinas envolvidas, deverão ser sujeitos a estes controlos.
A IAAF, que acompanhou nos últimos anos com interesse o desenvolvimento do passaporte biológico, juntou, entre Berlim e Daegu, as federações para o adoptar oficialmente (ainda que com atraso de anos em relação ao ciclismo e ao biatlo). Os testes sanguíneos na Coreia do Sul servirão sobretudo de "assinaturas biológicas" que vão alimentar os perfis dos atletas no âmbito do passaporte.
"Sem precedente"
A federação internacional de atletismo já utilizou no passado informações fornecidas pelos perfis [sanguíneos] para melhor orientar os controlos antidoping aos suspeitos. Doravante, a IAAF poderá também utilizar as anomalias observadas nos perfis como provas por si só do recurso a doping, para decretar punições.
"As análises permitirão não só medir os marcadores indicativos do uso de EPO [eritropoietina] ou de manipulação sanguínea nas disciplinas de resistência, mas poderão igualmente indicar o uso de esteróides ou de hormona de crescimento nas disciplinas de força e explosão", precisou a federação internacional ao anunciar "este programa sem precedente".
Sem precedente porque, segundo a IAAF, "esta será a primeira vez que uma população de cerca de 2000 atletas participantes num grande evento desportivo será submetida a controlos sanguíneos, dentro de condições materiais óptimas idênticas e durante o mesmo período de tempo".
Neste programa ambicioso a IAAF é apoiada pelo laboratório antidoping de Lausana, um dos 35 acreditados em todo o mundo pela Agência Mundial Antidopagem (AMA) e que é reputado pela sua grande perícia em matéria de análises ao sangue e do passaporte biológico.
"Os dados recolhidos irão alimentar uma base de dados única com valores de referência de biomarcadores sobre uma população de atletas de elite, homens e mulheres, que praticam diferentes disciplinas e têm origens geográficas variadas", sublinhou o organismo internacional que gere um dos desportos mais universais.
O passaporte biológico não substitui os controlos de doping clássicos, baseados na detecção de substâncias interditas na urina e no sangue, mas complementa-os. A IAAF prevê realizar cerca de 500 testes de urina durante os Mundiais, em e fora de competição.