Universidade de Coimbra distingue "visão social inclusiva" de Tolentino de Mendonça
A Universidade de Coimbra distingue neste ano o cardeal, ensaísta, poeta e teólogo José Tolentino de Mendonça. O anúncio é feito hoje pelo reitor, Amílcar Falcão, que destaca a "figura ímpar" da cultura, "com uma visão social inclusiva". Características também sublinhadas pelos membros do júri, que atribuíram a distinção por unanimidade. O Prémio Universidade de Coimbra é de 25 mil euros, sendo certo que 15 mil se destinam a um projeto de investigação à escolha do premiado (a novidade deste ano).
Tolentino de Mendonça foi nomeado cardeal pelo Papa Francisco a 5 de outubro de 2019. Atualmente bibliotecário e arquivista do Vaticano, tem como uma das últimas missões, desde dezembro, a Congregação para a Evangelização dos Povos, que pretende acompanhar as comunidades católicas no estrangeiro. É ainda membro do Conselho Pontifício da Cultura.
Nasceu no Machico, Madeira, numa família de quatro irmãos. Ordenado padre aos 24 anos, doutorou-se em Teologia Bíblica, em Roma, fixando-se, posteriormente, em Lisboa. Tornou-se capelão e docente da cadeira de Teologia Bíblica na Universidade Católica, onde foi vice-reitor.
No ano passado, presidiu às comemorações do Dia de Portugal, com uma intervenção intitulada "O que é amar um país". Está publicada e aborda a forma como a pandemia nos "obriga, como comunidade, a refletir sobre a situação dos idosos" e "implica robustecer o pacto intergeracional". O tema é recorrente nas suas intervenções públicas, nomeadamente no YouTube, a partir da Cidade do Vaticano.
A vida eclesiástica tem sido acompanhada por obra literária e atividade no ensino. Iniciou-se na escrita cedo e com uma maior divulgação a partir das páginas do DN. Em 1982, começou os estudos de Teologia, e foi nessa década que começou a escrever no suplemento DN Jovem, algumas vezes com os pseudónimos Tiago Hulsenn, André Trieste e João Hogan. Num dos seus textos, explicou que os nomes foram escolhidos de um barco, de uma cidade e de uma pintura.
Na poesia, que considera "a arte de resistir ao seu tempo", José Tolentino de Mendonça publicou o primeiro livro em 1990: Os Dias Contados. Tem vindo a acrescentar consistentemente títulos, e alguns desses poemas estão reunidas no livro A Noite Abre Meus Olhos. Publicado em 2014, foi distinguido pelo Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes.
O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas é a sua obra mais recente, e num registo diferente. Em estilo de perguntas e respostas, reflete sobre livros, filmes e momentos, mas também sobre a fé e Deus.
O Prémio Universidade de Coimbra, instituído em 2004, tem o patrocínio do Santander Universidades e do Global Media Group. Distingue "uma personalidade de nacionalidade portuguesa que se tenha afirmado por uma intervenção particularmente relevante e inovadora nas áreas da cultura ou da ciência.
Tolentino de Mendonça é comendador da Ordem do Infante D. Henrique (2001) e da Ordem Militar de Sant"Iago da Espada (2015).
"Neste ano, pela primeira vez, os 25 mil euros são divididos em 10 mil euros para o vencedor e 15 mil euros para uma bolsa de investigação numa área à escolha do galardoado. Uma decisão que procura incrementar estudos científicos, salientando os promotores do prémio que alguns vencedores de edições anteriores acabaram por atribuir parte do dinheiro a diversas instituições. Recorde-se que José Tolentino de Mendonça está muito ligado às questões da inclusão.
"Tratando-se de quem se trata, acreditamos que será, certamente, de uma área de inclusividade, de resposta às necessidades da sociedade num ano tão difícil como o que estamos a viver e em que a Humanidade, que é o tema da XXIII Semana Cultural da Universidade de Coimbra, fica muito bem representada com um premiado desta qualidade", salienta Amílcar Falcão, reitor da Universidade.
A distinção é atribuída a 1 de março numa cerimónia a partir da Sala dos Capelos, o principal espaço da Universidade de Coimbra, com transmissão online, e será a partir de Roma que D. José de Mendonça a irá acompanhar.
Em entrevista ao DN, há 10 anos, "o filho de pescador que encontrou nas palavras e na fé o sentido da vida padre" (como titulou o DN num perfil de Tolentino de Mendonça quando da sua nomeação para cardeal) caracterizava-se como "uma obra dos outros": "Vivo uma relação permanente com eles, numa comunidade que marca a minha vida, realizo-me nessa espécie de tráfego quotidiano que me aproxima e reenvia quotidianamente para os outros."