Ursula von der Leyen: "É tempo de a Europa avançar para o nível seguinte"

Ursula von der Leyen criticou hoje a "falta de vontade política" na União Europeia para que o bloco seja mais interventivo em matéria de defesa.
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A falar em Estrasburgo, na segunda vez em que participa em debates sobre o Estado da União, a presidente da Comissão defendeu a presença exclusivamente europeia em missões militares

"Haverá missões em que a Nato e as Nações Unidas não estarão presentes, mas a Europa deve estar", defendeu a chefe do executivo comunitário, apontando exemplos de missões europeias.

"Os nossos soldados trabalham lado a lado com agentes de polícia, advogados e médicos, com trabalhadores humanitários e defensores dos direitos humanos, com professores e engenheiros", especificou, sugerindo a "combinação dos esforços militares com os diplomáticos com a [ajuda ao] desenvolvimento".

"Temos uma longa história na construção e proteção da paz, mas o que precisamos agora é da União Europeia de defesa", afirmou Von der Leyen, esperando que "o debate" sobre forças expedicionárias, "de que tipos e em que dimensão", que tem ocupado as últimas semanas, dê lugar à construção de uma UE da defesa

"Pode ter-se as forças mais avançadas no mundo. Mas se nunca nos prepararmos para as usar, que utilidade têm? O que é que nos puxou para trás, até agora, não é falta de meios, é a falta de vontade política", lamentou.

A presidente da Comissão justifica-se, dizendo que Bruxelas deverá "proporcionar estabilidade na vizinhança [europeia] e em diferentes regiões", pois, "devido à sua geografia, a Europa sabe, melhor do que ninguém, que, se não lidar atempadamente com a crise além-fronteiras, a crise virá ao seu encontro".

Um dos argumentos de Von der Leyen prende-se com "a natureza das ameaças que enfrentamos está a evoluir rapidamente: de ataques híbridos ou ciberataques à crescente corrida ao armamento no espaço".

"Já não é necessário dispor de exércitos e mísseis para causar danos em massa. É possível paralisar instalações industriais, administrações locais e hospitais recorrendo apenas a um computador portátil. Um telemóvel inteligente e uma ligação à Internet são meios suficientes para comprometer processos eleitorais", referiu.

Uma vez ultrapassada a questão da "vontade política", a ex-ministra da Defesa do governo alemão entende que devem ser criadas "as bases para a tomada de decisões coletivas" - aquilo a que designa com "conhecimento da situação".

"É fundamental melhorar a cooperação em matéria de informações, (...) reunindo os conhecimentos de todos os serviços e de todas as fontes", disse, apontando os exemplos "dos trunfos já disponíveis" que vão desde "o espaço, à formação de agentes policiais. De fontes abertas, às agências de desenvolvimento".

Para "tirar partido de todas as sinergias possíveis", Von der Leyen super "a possibilidade de renunciar à cobrança de IVA aquando da aquisição de equipamento de defesa desenvolvido e produzido na Europa".

"Tal permitiria não só aumentar a interoperabilidade, como também reduzir as nossas dependências atuais", frisou.

Von der Leyen quer que a UE também seja líder em matéria de cibersegurança, com "ferramentas de ciberdefesa desenvolvidas na Europa", e "e uma política europeia de ciberdefesa, incluindo legislação que estabeleça normas comuns no âmbito de um novo ato legislativo sobre a ciber-resiliência europeia".

A presidente da Comissão Europeia considera que os Estados também "têm de fazer mais", a começar por uma "avaliação comum das ameaças que enfrentamos e por uma abordagem comum para as enfrentar"

O debate sobre o papel europeu em matéria de defesa marcará a presidência francesa da União Europeia, que arranca em Janeiro. Durante o semestre, França vai acolher uma cimeira europeia de defesa.

Von der Leyen entende que "é tempo de a Europa avançar para o nível seguinte", em particular depois dos "recentes acontecimentos no Afeganistão", que vieram relançar o debate sobre o papel da União Europeia no domínio militar.

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