União Europeia analisa caso de apostas 'online'

Após tribunal europeu ter aceitado 'monopólio Santa Casa' nas apostas desportivas, Comissão Europeia vai estudar assunto. Casas de apostas, legais noutros países, pedem harmonização.<br />
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Apostou que o caso das apostas desportivas online ia fazer correr muita tinta esta semana? Ganhou. Após o Tribunal Europeu de Justiça ter aceitado o monopólio da Santa Casa na área, em Portugal, a Comissão Europeia diz que vai analisar o tema, que pode ter repercussões noutros países.

Na decisão do diferendo Bwin--Santa Casa (ver caixa), o Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) admitiu que o monopólio (controlo total) do sector do jogo pela Santa Casa "limita a liberdade de prestação de serviços" no espaço comunitário. Contudo, o órgão judicial aceitou os argumentos para que o monopólio subsista (o Governo defende-o como uma forma de evitar dependências e criminalidade alegadamente associadas ao jogo).

Agora, a Comissão Europeia promete analisar "com atenção" o acórdão do tribunal. "O acórdão traz clarificações importantes. Vamos examiná-lo e ver se temos que retirar consequências para casos pendentes", disse ontem o porta--voz do executivo europeu para o Mercado Interno e Serviços, Oliver Drews. Ainda assim, o responsável admite que a análise demorará "algumas semanas" e que "este não é o momento" para tirar conclusões.

Em causa está mais de uma dúzia de casos similares ao português, também à espera de resolução na justiça europeia. O acórdão do TEJ é penalizador para as casas de apostas (diz que ao patrocinarem uma equipa ou competição podem influenciar o seu desenrolar e ganharem dinheiro com isso). E a decisão pode ajudar a esclarecer outros casos de monopólios estatais (que invoquem razões semelhantes à de Portugal). Ainda assim, Sigrid Ligné, secretária-geral da European Gamming and Betting Association (EGBA), desvaloriza as implicações da decisão do TEJ: "O caso de Portugal nada tem a ver com os outros a correr na Comissão Europeia."

O interesse da Comissão Europeia pelo assunto até pode servir os interesses das casas de apostas, que há muito pedem uma harmonização da legislação a nível europeu. "É necessário que a União Europeu harmonize a legislação do sector do jogo a todo o espaço europeu", afirmou anteontem Siegbert Albert, antigo advogado-geral do TEJ, que se exprimiu sobre o assunto a pedido da EGBA.

O mercado de apostas está cada vez mais liberalizado no território europeu (Inglaterra, Áustria e Itália permitiram operadores online; França ou Espanha aceitam a publicidade), mas Manfred Bodner, co-director executivo da Bwin, insiste na instituição de legislação europeia, para solucionar questões como a portuguesa. "É urgentemente necessário o desenvolvimento de um quadro jurídico actualizado", disse anteontem, em reacção ao acordo do diferendo com a Santa Casa.

Contra os clubes portugueses joga o problema da perda de receitas. Grandes europeus são patrocinados por casas de apostas (Milan e Real Madrid pela Bwin, Lyon pela Betclic). Em Portugal, há 11 equipas ("três grandes" à parte) patrocinadas pela Betclic... mas o acórdão do TEJ dá espaço para que a Santa Casa conteste o acordo. Ante isso, Siegber Albert reage de forma cáustica: "Se pode ser mau para as vossas equipas? Isso é um problema de Portugal."

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