Uma viagem até à luz com os Mono
Aquando da apresentação de 'Hymn to the Immortal Wind', os Mono revelaram que finalmente se sentiram confiantes para compor para uma orquestra alargada e que essa era a direção musical que queriam seguir. Em 'For My Parents', o novo álbum, pensam que conseguiram exteriorizar melhor essa direção musical? Estão mais perto da sonoridade que almejam?
Estamos contentes por termos completado o 'For My Parents' com a consciência de que demos o nosso melhor. Esta orquestração mais densa e rica era algo que queríamos explorar especificamente para estes dois últimos álbuns. Nos discos anteriores tínhamos já introduzido alguma orquestração, com cordas, mas muito timidamente, porque só nos sentimos confiantes para dar o salto com o 'Hymn'. Tivemos de passar por um processo de planeamento e aprendizagem para compormos partituras clássicas e chegarmos ao patamar em que nos encontramos. Não sabíamos como o nosso público iria reagir mas significou muito para nós experimentarmos esta sonoridade e termos completado o 'For My Parents'. Tem sido, portanto, uma viagem e uma experiência de aprendizagem incríveis. Apenas queremos permitir que a nossa música se desenvolva da forma mais natural possível.
O 'Hymn to the Immortal Wind' estabeleceu um novo ciclo para os Mono. Foi esse novo ciclo que vos fez sair da vossa zona de conforto e trabalhar com o Henry Hirsch e o Fred Weaver.
Sim, o 'Hynm to the Immortal Wind' ensinou-nos e ajudou-nos a compor para o 'For My Parents'. Deu-nos mais confiança para corrermos riscos, pensar menos e sentir mais. Tivemos muita sorte em cruzar os nossos caminhos com o Henry Hirsch e o Fred Weaver. Essa parceria trouxe-nos mais oportunidades, desafios saudáveis e entusiasmo para continuarmos a compor.
Com toda a orquestração introduzida em 'For My Parents', como foi o processo de gravação? A Orquestra também participou na composição dos temas? Quais foram os desafios que tiveram de ultrapassar?
O processo de composição e a orquestração introduzida em 'For My Parents' foi muito similar a 'Hymn to the Immortal Wind'. Compus as faixas em Tóquio, reunimos os quatro para os ensaios e seguimos rumo ao estúdio. Só depois é que enviámos as partituras para a Orquestra, quando todo o processo de composição estava já completo. A escrita dos nossos temas é muito solitária e só nós os quatro é que estamos envolvidos. Houve pequenos desafios relacionados com o som no estúdio do Henry Hirsch mas acabaram por ser superados da melhor forma. Não estávamos habituados à dinâmica do espaço no início, principalmente depois de termos gravado num estúdio diferente com o Steve Albini, durante tantos anos. Mas sim, foi muito importante sairmos da nossa zona de conforto. Acabámos por descobrir que o estúdio do Hirsch tem uma atmosfera muito especial e espiritual. Usámos fita analógica e um misturador de som vintage, o que acabou por transferir ao álbum uma sensação de preenchimento e profundidade. Oferecemos, depois, as faixas ao nosso amigo de longa data Fred Weaver para serem misturadas em Pensilvânia e, posteriormente, Bob Weston, membro dos Shellac, procedeu à masterização. Estamos muito gratos a todos eles.
A tristeza e a melancolia são os adjetivos mais comuns para descrever a vossa música, mas este álbum é essencialmente sobre esperança.
Sim, isso está correto. Através da nossa sonoridade queremos transmitir a ideia de que a luz está sempre presente depois da escuridão.
O título, 'For My Parents', é curioso, principalmente numa época em que a sociedade tende a esquecer as suas raízes. Este álbum remete-nos para quem nos deu vida, para o sítio onde crescemos. Trata-se de um trabalho mais pessoal e introspetivo? É um regresso às vossas origens?
Eu espero termos dado espaço suficiente às pessoas fazerem a sua própria interpretação do álbum, mas a história por detrás de 'For My Parents' é a seguinte: todos nós, um dia, iremos perder quem nos concebeu. É o curso natural das coisas e não pode ser mudado. Como é que nós podemos prestar assistência aos nossos pais? Como é que podemos ficar perto do nosso lar, o local que nos viu crescer? Neste álbum, sim, quisemos regressar às nossas origens. Era algo que queríamos fazer enquanto tínhamos a oportunidade para tal. O terramoto e o tsunami no Japão despertaram em nós emoções fortes em relação ao nosso país e família. Fez-nos pensar no quão frágeis e efémeros os momentos podem ser. O 'For My Parents', portanto, foi inspirado na energia que circulava no país nessa altura.
A música clássica sempre foi uma influência para vós? Quais são os compositores que mais ouvem?
A música clássica sempre esteve presente na nossa infância, portanto,compositores como Beethoven foram desde cedo uma grande referência para nós. Sou também um ávido fã de música clássica presente em bandas sonoras cinematográficas.
Ainda sentem que há uma clara necessidade em rotular o vosso trabalho?
A música não necessita de rótulos desde que as pessoas se comprometam com aquilo que ouvem. A música é visceral, uma experiência espiritual. Consegue oferecer ao caos do dia a dia uma certa transcendência. De uma forma inconsciente é claro que há influências japonesas no que compomos, mas a música ultrapassa essas definições culturais. Tem sido uma experiência maravilhosa tocarmos em sítios tão diferentes e, no entanto, nas atuações não sentirmos nenhuma barreira entre nós e o público. É a linguagem universal da música. Tal como qualquer outra forma de arte é uma ponte que permite a união. Estamos todos numa sala a partilhar a energia de um determinado tema e é nesse momento em que nos apercebemos que todos nós temos um fundo igual.
Esta não é a vossa primeira vez no Porto. Já tiveram tempo para conhecer melhor a cidade?
Infelizmente não. Desejávamos ter mais tempo para explorar a cidade porque pelo que já vimos é muito bonita, mas é sempre bom rever velhos amigos.
Já avançaram em inúmeras entrevistas que estão entusiasmados com o vosso trabalho. O que há de novo? Como é que se está a desenvolver o processo de composição?
Sim. Nós estamos, no momento, a compor para o nosso próximo álbum e regressaremos brevemente ao estúdio, embora seja difícil com o horário rígido da digressão. Os álbuns funcionam como entidades separadas mas cada um deles, estranhamente, faz parte de um processo contínuo. É como estar a ver o fio condutor que guia a vida de uma pessoa.