O sucesso do ano passado, que teve todas as visitas esgotadas, levou o Museu de Lisboa-Teatro Romano a organizar mais uma edição do Open House Arqueologia, que no próximo fim de semana, proporcionará a visita gratuita a 24 locais com vestígios arqueológicos, desde casas particulares, a lojas e hotéis. Ao DN, a coordenadora do Museu Lisboa-Teatro Romano deixa a garantia de que em 2024 haverá mais, revelando o desejo que esta iniciativa se realize um pouco por todo o país.."No ano passado foram onze locais, fizemos 26 visitas e tivemos 640 participantes. Como era o primeiro ano, quisemos que fosse uma coisa bastante contida para saber se teria pernas para andar, e teve. Foi o próprio Museu de Lisboa-Teatro Romano que assegurou todas as visitas, éramos quatro pessoas a fazer as visitas, e foi engraçado porque as pessoas andavam de mapa a tentar ir a todas", conta ao DN Lídia Fernandes, coordenadora deste polo do Museu de Lisboa, adiantando que este ano a maior parte das visitas será assegurada por arqueólogos que participaram na escavação os locais..Quanto a novidades para esta edição, Lídia Fernandes destaca dois locais, pelo facto de fugirem ao centro histórico cidade (ficam ambos na Rua da Manutenção, no Beato) e por representarem também um alargamento em termos cronológicos e de origem. "Este ano entrou a Fábrica de Moagem da Manutenção Militar, que é um polo do Museu de Lisboa, e com esta nova visita incluímos a arqueologia industrial, que é quase o parente pobre da arqueologia, pois como geralmente é muito recente em termos de cronologia, as pessoas acham que não é património arqueológico, mas, na verdade, tem um valor determinante na história de Lisboa e do país", explica a arqueóloga. O outro local é o Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática, "um local que as pessoas não sabem que existe em Lisboa, que não sendo um sítio arqueológico por si só, recolhe vestígios de arqueologia de diversas épocas de todo o país"..Na lista de locais a visitar este ano estão também quatro casas particulares, cinco hotéis, várias lojas e até um parque de estacionamento, com Lídia Fernandes a explicar que não foi nada difícil convencer os proprietários destes espaços a abrirem as suas portas a visitas guiadas, apesar de algumas restrições. "Um sítio extremamente difícil era o Corpo Santo Hotel, que só aceita seis pessoas de cada vez, porque os vestígios arqueológicos ficam na sala dos pequenos almoços. É um espaço maravilhoso, com um troço enorme da muralha Fernandina, do século XIV, tem ainda os vestígios da antiga Torre de João Bretão, que está extremamente bem conservada, tem também estruturas do Palácio dos Corte Real, é um sítio magnífico", elogia. "A mesma coisa com Hotel Santiago de Alfama, que também só aceita seis pessoas de cada vez, pois os vestígios ficam num corredor de acesso aos quartos, temos de falar muito baixo, mas é melhor serem seis pessoas do que ninguém"..Há ainda a possibilidade de visitar locais como a Casa dos Bicos (tanques romanos de salga) e o parque de estacionamento do Campo das Cebolas (estruturas portuárias dos séculos XVIII e XIX), a Garrafeira Napoleão (tanques romanos de salga), o Museu do Dinheiro (troço de muralha da época de D. Dinis e vestígios do Palácio Real), o Pátio da Senhora de Murça (troço da Cerca Velha), a geladaria Popbar Portugal (ferraria quinhentista), o Jardim Augusto Rosa (estrutura habitacional do século XVII/XVIII destruída pelo terramoto de 1755), a Fundação Millennium BCP (áreas habitacionais da Idade do Ferro, tanques de salga da época romana e ocupações islâmicas) ou as Termas dos Cássios (as únicas termas públicas romanas conhecidas em Lisboa)..Cada visita tem a duração de meia hora, mas no caso de locais de permanência mais complicada como os hotéis, "tentamos ficar dentro do local o menor tempo possível, por isso fazemos toda a introdução fora do espaço, contando como é que começou a escavação arqueológica e até falando da história do topónimo onde nos encontramos", refere a coordenadora do Museu de Lisboa-Teatro Romano. Para 2024, Lídia Fernandes promete uma terceira edição do Open House Arqueologia, com o "objetivo de estender o evento a toda a cidade de Lisboa, pois ainda estamos numa área geográfica relativamente pequena, sobretudo o centro histórico da cidade. Mas existem outros locais que têm vestígios arqueológicos que ficam mais afastados"..Esta arqueóloga confessa também o seu desejo de tornar o Open House Arqueologia num evento nacional, tal como aconteceu com o Open House Arquitetura. "A arqueologia existe em todo o lado, por todo o país, mais do que as pessoas pensam, por exemplo, Loulé tem os banhos islâmicos, que foram inaugurados há relativamente pouco tempo e são um caso de sucesso. Nós temos coisas maravilhosas no nosso país, não damos é tanta importância como outros são", lamenta..ana.meireles@dn.pt