Uma verdadeira visão estratégica
Se Portugal não se libertar da estagnação, será negro o futuro de todos os portugueses. Há vias para fazer duplicar o PIB em 20 anos, mas pôr o país a crescer verdadeiramente implica reformas sérias na economia. Que vão doer, mas são essenciais para inverter a curva descendente num país que tem hoje um nível de vida comparável ao de há 20 anos, como se vê no retrato feito pela SEDES. E que perdeu uma oportunidade quando voltou atrás nas mudanças forçadas pela troika, com a reversão de políticas levadas a cabo pela geringonça.
Quase uma década depois, tudo será mais difícil, mais penoso. Sobretudo quando estamos à beira de nova recessão e a inflação nos roubou uma boa fatia de rendimentos. Mas em menos de 50 anos, viver da reforma - adiada já então para os 69 anos - será uma sentença de miséria extrema. As pensões que hoje equivalem a um pouco mais de 70% da remuneração passarão a valer cerca de um terço do salário recebido nos anos de atividade. Mudar de paradigma é, portanto, uma questão de sobrevivência.
A transformação é inevitável numa economia que fez zero para inverter a crise demográfica que se agrava há décadas, que não se mexeu para garantir que os seus melhores aqui permanecessem, que alimenta à custa de burocracia e castigo fiscal um tecido empresarial doentiamente dependente do Estado e que deixou degradar os serviços públicos para lá de qualquer limite.
Não começar a mudar já será votar-nos ao desaparecimento numa espiral de perda e degradação de condições. E as indicações do caminho preconizado pela SEDES são bastante simples: tornar o Estado capaz de criar e implementar políticas públicas para o desenvolvimento, reforçar incentivos à inovação das empresas, reformar o Ensino Profissional, apostar numa ferrovia em bitola europeia e, prioritário, um imprescindível choque fiscal.
Não é possível redistribuir-se o que não existe. Sustentar um Estado Social exige uma economia saudável. E curá-la da anemia obriga a atrair investimento estrangeiro e melhorar a competitividade, a uma redução séria dos impostos sobre o trabalho pagos pelas empresas, a cortar quase a meio os impostos sobre os lucros e mexer nas taxas de IRS. Quem o diz não é um grupo de perigosos liberais e defensores do grande capital, mas uma das mais antigas associações cívicas portuguesas, cujo lema é "pensar Portugal ao centro" e que tem representantes de diferentes formações académicas, estratos sociais, atividades profissionais e opções políticas a estudar a realidade e a apontar saídas com total independência e único foco na melhoria do país.
A ambição de melhorar devia ser desígnio de todos nós. E se essa exigência não existe em quem pode decidir a mudança, cabe à sociedade civil fazer a sua parte e forçar ativamente aquilo que não depende de si.
Subdiretora do Diário de Notícias