Uma república, um orçamento e vários ventos de mudança

Publicado a
Atualizado a

É a república que nos guia, apesar dos muitos elogios recentes à monarquia, aquando da morte da rainha Isabel II. Um regime republicano que é a base de uma democracia que enfrenta, em 2022, novos desafios, com extremismos crescentes, problemas de demografia e de discriminação e frágil coesão social e territorial.

A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de outubro e vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910, que destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal.

Esta quarta-feira assinalaram-se os 112 anos desta mudança histórica. Foi um 5 de Outubro especial, com muitos recados, vários avisos à navegação de Marcelo Rebelo de Sousa dirigidos ao governo e também com reações de António Costa, primeiro-ministro. Em pleno dia da República, e em vésperas do Orçamento do Estado para 2023, os portugueses percecionaram um clima de tensão entre os poderes políticos que representam duas instituições fundamentais para a nossa soberania republicana.

Hoje, tal como há 112 anos, vivemos momentos de transição. Portugal respira agora uma maioria absoluta legislativa que, pelas sondagens recentes que têm sido publicadas, perde oxigénio, popularidade e já desbaratou o estado de graça com que arrancou. Aliás, começa a ser alvo de contestação social. O país vive num sistema semipresidencialista que exige equilíbrio permanente e respeito entre órgãos de soberania... até agora, a popularidade do Presidente e do primeiro-ministro (enquanto líder do governo) tem sido elevada, mas está em queda, o que não é desejável perante os tempos conturbados que temos pela frente.

Se esta semana assinalámos o 5 de Outubro, dentro de apenas dois anos estaremos a celebrar os 50 anos da revolução do 25 de Abril. Comemorar essa data será o mesmo que assinalar meio século da terceira república. Por isso, devemos aproveitar, desde já, para refletir sobre a forma como queremos gerir, liderar o país e desenhar o futuro de Portugal. Que desígnios quer a nação e quais aqueles pelos quais, verdadeiramente, o povo está disposto a lutar? Se não os soubermos definir, enquanto país, não teremos o povo comprometido com os órgãos de soberania que representam a República.

Diretora do Diário de Notícias

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt