Uma relação difícil mas indispensável
Poucos terão presente que os Estados Unidos foram uma vez "populares" na região do Médio Oriente entendida em sentido amplo. A cooperação existiu no plano cultural, técnico, económico e a perceção, pelo menos, em certos meios regionais era a de que os EUA podiam ser um aliado contra as potências coloniais históricas. Uma realidade que conhecerá decisiva alteração com a crescente importância do petróleo para a economia americana e mundial, com o conflito israelo-árabe e a criação do Estado de Israel (reconhecido de imediato pelos EUA e URSS) e o golpe de 1953 em Teerão. Tudo isto no quadro da Guerra Fria e da competição EUA-URSS pela influência dos Estados na região. O quadro é hoje algo distinto, mas permanecem linhas de continuidade (da competição por esferas de influência à importância estratégica do petróleo e gás natural) e novos elementos, como o acentuar de clivagens religiosas e a redefinição da arquitetura regional, processo que está longe - muito longe - de ficar concluído. É nesta conjuntura que Teerão e Washington têm de reinventar o relacionamento bilateral no pressuposto da necessidade e utilidade para ambos. O primeiro passo é o indispensável conhecimento das respetivas sociedades, dos pontos de contacto por paradoxais que possam parecer - ambas nasceram de um projeto religioso e têm um modelo institucional baseado no sistema de freios e contrapesos e são pluralistas - às diferenças que permanecerão (previsivelmente) insuperáveis, como diferentes interesses geoestratégicos e de hierarquia de aliados. Os cálculos neste capítulo levarão, tendencialmente, a conclusões antagónicas em Washington e Teerão, o que não exclui a possibilidade de interseção - essa é a arte da diplomacia e da sua ousadia. Para o Irão, o inimigo principal não são os EUA. Da mesma forma, a República Islâmica não será o aliado de eleição dos EUA. Mas ambos terão de aprender a tornarem-se parceiros mutuamente relevantes.