Uma reforma urgente

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Ao contrário do que os políticos pensam, o povo gosta mais de quem decide pela sua cabeça, dos que assumem opções desafiantes e com risco, desde que estejam convictos da bondade das suas decisões, do que daqueles que tendem a decidir em função das sondagens ou pelas soluções que menos risco apresentem.

Foi o caso de Cavaco Silva e de Mário Soares, a quem o povo deu a confiança para chegarem a todos os lugares a que se candidataram. Pessoas com carisma e que não punham os resultados eleitorais à frente das suas convicções. Pelo contrário, acreditavam que as suas decisões seriam a razão dos seus bons resultados.

Contudo, a maioria dos políticos que se apresentam para governar o nosso país, seja porque não confiam em si mesmos, seja porque se deixam vencer pela pressão de assegurar bons resultados eleitorais, na sua maioria acabam por ouvir as sondagens antes de tomarem uma opinião.
Como em todas as circunstâncias da vida, a convicção e a determinação com que se toma uma decisão é determinante para o seu resultado.

Por isso, a escolha de qualquer dirigente deveria ser estabelecer os objetivos que pretende, desenhar, uma estratégia e um caminho, com a consciência de que uma decisão tomada com base na convicção da sua correcção e oportunidade é aquela que melhores resultados virá a produzir para o país e para o reconhecimento do seu responsável.

Depois deve partilhar essa escolha com todos aqueles que sofrerão da sua aplicação e explicar-lhes as razões dessa opção.

Quando tomamos uma decisão que tem em consideração principal o bem-estar e a realização da pessoa que beneficiará ou sofrerá dessa mesma decisão, o seu resultado tende a ser de grande reconhecimento.

Ainda assim, há diferença entre tomar uma decisão que considera o seu efeito nas pessoas a quem se destina e receber de volta um reconhecimento e uma outra que é tomada pelo que se espera obter.

Esta segunda fórmula tem sempre resultados muito contrários ao que esperam os seus autores, já que é dominada pelo medo de perder, que é um dos maiores inimigos da boa escolha. Quem decide por medo, normalmente erra.

Ora, como uma das razões que mais pressiona as decisões é a exigência da obtenção de resultados eleitorais, torna-se evidente que o sistema que temos é excessivamente favorável à inexistência de boas lideranças, promotor da hesitação e da ausência de reformas estruturais.

Entre 2019 e 2026 - sete anos - Portugal deverá realizar, pelo menos, nove eleições, e todas com leitura política nacional. Três legislativas (2019, 2022 e 2026), duas europeias (2019 e 2024), duas autárquicas (2021 e 2026) e duas presidenciais (2021 e 2026).

A democracia significa também o poder do Povo, mas o Povo vai dando sinais de cansaço com este sistema, como se atesta pela tendência de evolução das taxas de participação.

É manifesta a falta de adesão à realidade da legislação eleitoral vigente, feita noutro tempo e para outras circunstâncias.

Não se consideram as novas tecnologias nem o voto à distância, não se consideram os efeitos da aceleração histórica, nem se considera a desadequação de legislaturas a começar em Outubro, quando há um Orçamento de Estado para aprovar até dezembro.

Há ainda prazos constitucionais e legais a cumprir, que sendo teoricamente sensatos convidam à inação e ao adiamento (o Orçamento de Estado foi reprovado no dia 27 de outubro de 2021 e o novo governo tomou posse a 30 de março de 2022).

Para além de ser extraordinariamente cansativo para o eleitor, este mecanismo de gestão da democracia leva o país a estar permanentemente em campanha eleitoral e mata a sua capacidade de fazer a revolução estrutural de que tanto precisa, para viver e sobreviver.

É urgente fazer uma reavaliação do sistema de eleições, mantendo as bases da democracia, mas subindo a exigência da performance governativa para promover as reformas fundamentais ao nosso desenvolvimento.


bruno.bobone.dn@gmail.com

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