Uma pequena língua que resistiu aos invasores

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Para explicar a origem do mirandês é preciso recuar à Idade Média quando se formavam as várias nacionalidades na Península Ibérica. Naquela zona de Miranda do Douro falava-se o asturo-leonês (a língua do reino de Leão), mas a região acabou por ficar ligada ao reino de Portugal (onde se falava o galaico-português). "O mirandês é o que restou do leonês em Portugal", explica Armando Ferreira, tradutor para mirandês de Asterix L Gaulés.

O mirandês sobreviveu à administração portuguesa, não tanto devido ao isolamento, como muitos dizem, mas sobretudo porque, como explica Armando Ferreira, "trata-se verdadeiramente de uma língua e não apenas de uma variante. O mirandês está imbuído na cultura e nas tradições de um povo". Além disso, diz, apesar desta originalidade, os mirandeses nunca almejaram a independência e, por isso, o Estado nunca encarou a língua mirandesa como um inimigo. Finalmente, o facto de, mesmo ali ao lado, o leonês ter continuado a ser falado até ao século XIX (quando o castelhano se instalou em toda a Espanha), também contribuiu para a resistência desta língua. Analisando o mirandês, reconhecem-se as aproximações ao castelhano e ao português, assim como a evidente origem latina.

Durante muito tempo o mirandês sobreviveu apenas na tradição oral. O primeiro livro em mirandês foi editado em 1882 Flor Mirandesa, conjunto de poemas de José Leite de Vasconcelos. Foi também este autor que publicou, em 1900, a primeira gramática de mirandês. Em 1985, a língua começou a ser ensinada em algumas escolas e, em 1999, foi reconhecido pela lei como língua oficial. Desde então, é ensinado em todas as escolas da região, desde o pré-escolar ao secundário e ainda no pólo de Miranda do Douro da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Na região de Miranda haverá sete mil pessoas que falam o mirandês, a que se juntam mais três a quatro mil falantes espalhados pelo país.

"A tradução de Astérix em mirandês é muito importante antes de mais porque a língua fica associada a uma obra-prima da banda desenhada", explica Armando Ferreira. "Mas também será um material importante para as crianças que têm poucos livros em mirandês."

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