"Uma onda por cima da outra". 34 mortos e 400 desaparecidos na enxurrada
"Fui acordado por um grande estrondo, seguido de um barulho crescente. Quando saí, vi uma nuvem de poeira gigantesca e uma onda de lama. Era uma onda que vinha por cima da outra e um ronco das coisas sendo arrastadas." O testemunho é de Mayke Ferreira à Folha de São Paulo.
A testemunha é funcionário da Vale, a empresa mineradora que gere a barragem de contenção de Brumadinho, no estado brasileiro de Minas Gerais, que cedeu na sexta-feira de manhã. Além de uma barragem ter rompido, outra transbordou, tendo vazado cerca de 13 milhões de metros cúbicos de resíduos da produção de minério de ferro no rio Paraopeba. Do acidente foram resgatadas cerca de 200 pessoas. Teme-se que o número de mortos ascenda às centenas.
Um autocarro com vítimas mortais foi encontrado pelos bombeiros. Antes desta descoberta o número de mortos confirmado era de nove. Pelas 20.00 (hora de Lisboa) o número de vítimas mortais confirmadas subiu para 34.
Os bombeiros confirmam ainda que 23 pessoas foram encaminhadas para hospitais da região, e 81 pessoas estão desalojadas devido à rutura da barragem.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, decretou estado de calamidade e luto oficial naquele estado brasileiro.
A empresa divulgou uma lista com os nomes das 412 pessoas desaparecidas.
Outra testemunha ouvida pela Folha é o biólogo Luiz Guilherme Fraga e Silva, de 27 anos. Estava a fazer trabalho de campo, a tirar fotografias, quando viu "um tsunami de lama" em sua direção. "Saiu varrendo tudo e eu fui correndo para um cruzamento próximo. Vi todo o mundo saindo gritando das casas, e a lama levando os fios de postes de luz, tudo caindo."
A primeira vítima mortal confirmada é a médica Marcelle Cangussu. Segundo a Globo, Marcelle tinha completado 35 anos na véspera e não estava na escala de sexta-feira, mas foi chamada de última hora.
O presidente Jair Bolsonaro criou por decreto, na sexta-feira à noite, um conselho composto por dez ministros para supervisionar os acontecimentos de Brumadinho, bem como um comité de gestão de respostas aos desastres.
Bolsonaro sobrevoou nesta manhã a região atingida e reúne-se com o governador Romeu Zema, em Belo Horizonte. Do encontro pode sair uma indicação sobre a hipótese de decretar o estado de emergência no estado de Minas Gerais.
A Vale, uma das maiores empresas mineiras, viu a justiça bloquear as suas contas em mil milhões de reais (232 milhões de euros). Em novembro de 2015, um desastre semelhante ocorreu noutra barragem da Vale, a de Fundão. O rompimento atingiu a bacia do Vale do Rio Doce, em Mariana, também em Minas Gerais. Morreram 19 pessoas. Três anos depois está tudo por fazer, quer em termos ambientais, quer na ajuda às populações, quer ainda na justiça.
[Notícia atualizada às 20.25 com a informação de que o número de vítimas mortais confirmadas subiu para 34]