Uma maria-rapaz que aprendeu a gostar de uniformes com o pai

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Ann Dunwoody. Desde a Revolução Americana que os Dunwoody servem nas forças armadas dos EUA. Agora, a família pode orgulhar-se de ter a mulher com a mais alta patente na hierarquia militar daquele país. Aos 55 anos, esta general casada mas sem filhos diz-se surpreendida e orgulhosa

"Houve um Dunwoody em todas as guerras desde a Revolução Americana", recordou o chefe do Estado-Maior do exército americano, o general George Casey, no dia 14. Mas desta vez não era "um", mas sim "uma" Dunwoody a estar no centro das atenções. De facto, na semana passada, Ann Dunwoody foi confirmada como a primeira mulher general de quatro estrelas nos Estados Unidos, a militar feminina com a patente mais elevada nas Forças Armadas daquele país.

Bisneta, neta, filha, irmã, mulher e tia de militares, Dunwoody cresceu entre fardas. Em criança, viveu na Bélgica e na Alemanha, ao sabor dos destacamentos do seu pai. No exército desde 1975, esta mulher nascida na base militar de Fort Belvoir, na Virgínia, e formada em Educação Física pela Universidade de Nova Iorque, alistou-se com a intenção de ficar apenas dois anos. Mas já passaram 33, durante os quais se habituou a ser pioneira. Em 1992, por exemplo, tornou--se na primeira mulher a comandar um batalhão de pára-quedistas. Num país onde, apesar de representarem 14% das forças armadas, as mulheres estão proibidas por lei de integrarem unidades de combate, Dunwoody afirmou ao receber a sua quarta estrela: "Há tantas mulheres de talento no exército. Ficariam impressionados." E acrescentou, citada pelo site Army.mil, "O que mais me entusiasma é que posso ser a primeira, mas sei que não vou ser a última."

Apesar de as mulheres terem serviço nas forças armadas americanas desde a guerra da independência, primeiro como enfermeiras e a partir da II Guerra Mundial como soldados, até 1967 só podiam ser coronéis. Leslie Kenne, na reserva desde 2003, tornara-se quatro anos antes na primeira mulher general de três estrelas.

Casada há 18 anos com o coronel na reserva Craig Brotchie, não se esqueceu de lhe dedicar o seu discurso de aceitação da quarta estrela. Afirmando-se surpreendida, a general, de 55 anos, declarou que só uma pessoa o estaria mais do que ela: o marido. "Sabem o que se costuma dizer: por trás de uma mulher de sucesso há sempre um homem surpreendido."

Com esta promoção, Dunwoody passou a vice- -chefe do Estado-Maior encarregado da Logística. Um departamento cujo site na Internet apresenta o lema: "Se um soldado o pode disparar, conduzir, pilotar, usar, comunicar com ele ou comê-lo, o Comando de Material do Exército fornece-o." Essencial para as operações militares no Iraque e Afeganistão, o comando que agora vai ser dirigido por Dunwoody inclui 56 mil homens.

Maria-rapaz quando era criança, Dunwoody nunca se deixou intimidar por ter de liderar homens. Filha de um veterano da II Guerra Mundial, Coreia e Vietname, confessa agora que nunca se considerou "nada mais que um soldado". E é como tal que esta militar que serviu na "Operação Tempestade do Deserto", na Guerra do Golfo, quer continuar a ser um exemplo para todos os jovens que queiram seguir uma carreira nas forças armadas americanas. "Ao fim de 33 anos, posso garantir que as portas do exército se continuam a abrir para os homens e mulheres de uniforme."|

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