Uma lésbica à frente da Islândia

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No Parlamento há 30 anos, a ex-hospedeira é vista como a salvação de uma ilha em crise

Uma mulher à frente de um Governo já não é novidade, mas se essa mulher for assumidamente lésbica, o caso muda de figura. É o que pode acontecer na Islândia se a social-democrata Johanna Sigurdardottir for escolhida para liderar o novo Executivo de esquerda depois da demissão do primeiro-ministro Geir Haarde, na segunda-feira.

Aos 66 anos, a actual ministra dos Assuntos Sociais é considerada como uma das políticas mais experientes da pequena ilha atlântica. Formada em Economia, Sigurdardottir foi eleita em 1978 para o Althingi. Mais de três décadas a servir no mais antigo Parlamento do mundo tornou-a numa opção óbvia para ajudar a Islândia a atravessar uma das suas piores crises. Duramente atingida pelo colapso da economia mundial, esta ilha de apenas 300 mil habitantes teve de nacionalizar os seus três principais bancos. A inflação disparou e o desemprego passou de cerca de 1% em 2007 para 6,4% neste Janeiro de 2009. Acusado de não ter sabido lidar com os sinais da crise, o Governo de Reiquejavique foi forçado a demitir-se depois de meses de protestos que incendiaram as ruas habitualmente calmas da capital islandesa. Com as eleições antecipadas para Maio, o Governo interino terá de preparar o caminho para a adesão do país à União Europeia, uma opção que está cada vez mais em cima da mesa.

Num momento de turbulência, Sigurdardottir, de 66 anos, surge como uma "tábua de salvação" graças à sua reputação de política empenhada nas causas sociais. Esta antiga assistente de bordo que trabalhou durante nove anos para a companhia aérea Icelandic Airways, nuns anos de 1970 em que quem exercia tal profissão ainda era identificada como hospedeira, foi duas vezes ministra dos Assuntos Sociais, de 1987 a 1994 e desde 2007.

Depois de uma curta experiência à frente de um partido que ajudou a criar, Sigurdardottir regressou aos sociais--democratas. Conhecida por distribuir avultadas quantias de dinheiro público para ajudar os doentes, idosos e organizações de luta contra a violência doméstica, a ministra está na mira dos conservadores. Estes garantem que as "tendências esquerdistas" desta antiga líder sindical e a sua falta de experiência empresarial vão ser um entrave ao restabelecimento da economia do país que liderava o Índice de Desenvolvimento da ONU.

Lésbica assumida, Sigurdardottir gosta de manter a discrição sobre a vida privada. Mãe de dois filhos, do primeiro casamento, não esconde a orientação sexual. E muito menos a relação com Jonina Leosdottir. Romancista, dramaturga e jornalista, a companheira da ministra tem várias peças suas levadas aos palcos. As duas vivem desde 2002 em stadfest samvist, estatuto legal baseado na união de facto dinamarquesa, apesar de, no seu site oficial, Sigurdardottir se dizer casada. Num país conhecido pela abertura de espírito, o facto de ser lésbica nunca pareceu influenciar a sua carreira política. Mais comentado tem sido o facto de recusar o motorista e a limusina associados ao seu cargo, preferindo conduzir ela própria o carro sobre o qual os colegas garantem: "Já teve melhores dias."

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