Uma ilha: Faial
O segredo? O segredo está na qualidade do gin, na dose certa de água tónica, no limão que deve estar fresquinho, nos copos grossos e pesados, nas mesas de madeira já meio peganhentas, nas portadas abertas para a rua e o mar lá ao fundo, no cheiro do bife servido a qualquer hora, nas paredes azuis pintadas com a mesma tinta que se usa nos cascos dos navios, na placa sobre a porta onde se lê Café Sport. Ninguém sabe ao certo qual é o segredo mas a verdade é que não há nenhum gin tónico como o do Peter, na Horta, Faial, Açores (nem mesmo o da sucursal lisboeta, no Parque das Nações, garanto-vos).
Peter não se chamava realmente Peter mas José Azevedo. Foi quando trabalhava num navio inglês que o comandante o começou a tratar assim. "Era mais fácil para eles e fiquei Peter", contava. A fama do Café Sport, fundado pelo seu pai, Henrique Azevedo, em 1918, correu de onda em onda entre iatistas e outros navegadores que procuravam o abrigo do porto da Horta. Era o José que, ainda miúdo, ia levar as compras aos barcos, dava conselhos, entregava o correio. Na altura não havia telefone: as pessoas mandavam as cartas e telegramas para o café e estes ali ficavam, dias, semanas, meses, até que o barco do destinatário atracasse. "Nunca se perdeu uma carta", assegurava Peter. E o café continuou a fazer esse serviço mesmo quando ele deixou de ser necessário. Assim como continuou a disponibilizar a informação meteorológica e a ser ponto de encontro de marinheiros, turistas e jovens da terra. "Se velejares até à Horta e não visitares o Peter não viste a Horta na realidade" é o lema da casa, agora já sem o Peter, desaparecido em Novembro de 2005, e entregue ao seu filho José Henrique.
Eu vi a Horta. E vi tudo o que havia à volta. Até aterrar no Faial, já lá vão uns quantos anos, nunca tinha estado numa ilha assim tão pequenina. Uma pessoa aluga um carro e vai até à ponta da ilha e volta pelo outro lado e quando chega a casa ainda nem sequer é hora do almoço. Uma pessoa pára num café, mete conversa com alguém e sai de lá com convites para uma jantarada, números de telefone, amigos para a vida. Há ruas empedradas e gente que assoma à janela só para ver quem passa e dizer boa tarde. Não há reboliço, não há trânsito, não há pressa. Sai-se da Horta para passear por estradas sem carros, rodeadas de campos verdes e hortênsias azuis. Talvez sejamos subitamente parados por uma vaca estacionada no meio da via ou por uma data de vacas a atravessarem a rua no seu passo vagaroso. É puxar o travão de mão e esperar.
Este é, portanto, o sítio ideal para parar um pouco e relaxar. Dar uma escapadela até à Praia do Almoxarife ou à Praia do Porto Pim, atravessar o canal até ao Pico, passear na marina ao fim do dia, ir dançar ao baile do Angústias Atlético Clube, aproveitar um dia de céu limpo para descortinar São Jorge, comer muito e variado peixe, lapas, polvo e lagosta, queijos, linguiça com inhame e umas quantas fofas do Faial. Tudo acompanhado pelo doce vinho do Pico. E, a terminar, um gin tónico do Peter.