Uma ilha: Djerba
Primeira lição na Tunísia: o país vive do e para o turismo. Os tunisinos sabem disso. É bom que o leitor também saiba. A compreensão desta mensagem ser-lhe-á útil para a viagem e dela dependerá a ideia que trará de lá quando regressar a Portugal. E Djerba, a ilha dos sonhos, como é conhecida localmente, apesar de verdadeiro paraíso turístico, não perdeu essa característica tão comum no Norte de África: tudo é negociável. Se lhe pedem 70 dinares por uma peça de artesanato, não hesite. "Oh, non, c'est trop cher!" A frase faz milagres e vai ver que, de imediato, o vendedor lhe baixa o preço para 50. Não se contente. Se no espaço de dez segundos, o abate foi tão grande é porque o que quer comprar não vale mais do que 30. Em geral, os comerciantes tunisinos fazem de tudo para vender. Metem-se consigo, falam-lhe de Portugal, do futebol ("Fi-gô" ou "Rô-nal-do") e não se surpreenda se alguém lhe mostrar um cartão de sócio do Benfica. Mas atenção: se a sua intenção é só ver e não comprar, não pare na loja, não pergunte o preço. Para os tunisinos isso é sinal de negócio garantido.
Comprar é um dos melhores passatempos para quem viaja para a Tunísia. A cor e a agitação dos mercados, os aromas a especiarias, o chá, os tabacos, os cachimbos de água, os couros e cabedais, os vidros e as cerâmicas. Há de tudo. Djerba não é excepção.
Houmt Souk é o centro da ilha, a sua verdadeira capital. O seu mercado matinal é uma festa que merece ser visitada, tal como a CoopérativeArtisanale e o MuséedesArtsPopulaires. Recomenda-se ainda o mercado de Midoun, à quinta e sexta-feira, um dos maiores e melhores da ilha, e ainda Guellala, uma pequena povoação onde quase toda a gente faz da cerâmica uma forma de arte e de vida. É possível ver artesãos a trabalhar na rua, a céu aberto. E, claro, tudo se regateia. E tudo se vende.
Com 125 quilómetros de costa, o principal atractivo de Djerba não é, porém, as compras nos mercados, o casario branco e azul impecável que nos surpreende a cada passagem, nem, tão-pouco, a luxuriante vegetação natural (bem diferente dos terrenos áridos de Hammammet, outra Meca turística do país). Não, com tanto mar à volta (é uma ilha, que diabo!!!), a praia é o que leva a Djerba milhares de turistas por ano. E são muitas as possibilidades. Desde a praia que fica ao atravessar a estrada que nos separa dos resorts, até aos recantos mais tranquilos que é possível imaginar, é fácil encontrar uma praia de areia fina e de palmeiras, com a água tranquila e quente (bendito Mediterrâneo!) a convidar a banhos prolongados.
Segunda lição: combata a inércia! Mesmo que o seu propósito seja descansar, resista a ficar num dolce fare niente do resort, não caia na tentação de preguiçar debaixo de uma palmeira com a água a seus pés. Aproveite para visitar as medinas e, por exemplo, a sinagoga de Ghriba, local de culto de referência dos judeus de Djerba, uma das comunidades hebraicas mais antigas do mundo.
Ao final do dia, porém, mesmo que as forças comecem a faltar e recomendem o regresso ao hotel, não se permita ao luxo de dispensar um pôr do Sol nas pracetas e recantos cheios de esplanadas e cafés, coloridos de buganvílias e outra vegetação luxuriante que se debruça dos varandins das casas caiadas. Vai ver que o mundo pára à sua volta. Não admira, aliás, que Homero, em 1100 a.C. tenha contado na sua Odisseia que Ulisses vacilou na hora de partir de Djerba. Percebe-se porquê.