Uma exposição que começa ao entrar num buraco na parede

Isabel Carlos selecionou 60 peças das coleções do CAM - Centro de Arte Moderna (Lisboa), de La Caixa e MACBA (Barcelona).
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"Rasteja, verme", lê-se na pintura a preto e branco. E aí percebemos. Para ver como deve ser a obra do norte-americano Mike Kelley (1954-2012) temos de nos agachar e entrar pelo pequeno buraco que está por baixo. Como Alice a cair pela toca do coelho. Ou como se entrássemos na caverna de Platão, tal como sugere o título: The Trajectory of Light in Plato"s Cave (from Plato"s Cave, Rothko"s Chapel, Lincoln"s Profile). Rastejamos. Lá dentro, a gruta transforma-se num enorme útero e é preciso "nascer" (ou seja, passar uma vagina) para entrar no mundo colorido e geométrico de Rothko. "As cores são dos fluidos corporais, sangue, urina, excrementos", explica Nimfa Bisbe, conservadora de La Caixa, a cuja coleção pertence esta peça. Deparamo-nos, então, com um painel, com a impressão de um corpo e outras formas (fazendo lembrar Yves Klein ou Rorschach) para, finalmente, desembocarmos na lareira burguesa de Lincoln. "É uma crítica muito irónica à sociedade", explica a conservadora.

A peça que está no centro da nave do Centro de Arte Moderna (CAM) é um pouco a síntese da exposição Tensão e Liberdade, que ali se inaugura hoje. Uma exposição que, explica Isabel Carlos, comissária da mostra e diretora do CAM, parte da constatação de que havia nestas três coleções da Península Ibérica - CAM, Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA) e Fundación la Caixa - obras que refletem sobre uma história comum: no século XX Portugal e Espanha viveram guerras (colonial e civil, respetivamente) e longas ditaduras, numa oscilação permanente entre tensão e liberdade.

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