Uma doninha clássica mas não muito

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Uma doninha clássica mas não muito

Da Weasel com Orquestra Sinfónica Portuguesa

Local: Torre de Belém

Data: 3 de Setembro

"Massena, Massena, Massena." Cânticos de escola futebolística, de punho no ar e corpo suado. Não se gritava por nenhuma estrela rock'n'roll nem por nenhum ícone pop que no momento faça as delícias da juventude. Rui Massena era o maestro à frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa, que na noite de domingo acompanhou os Da Weasel ao vivo, no jardim da Torre de Belém, em Lisboa. Um saudável cruzamento ainda a aprofundar entre linguagens nem sempre próximas.

Esta não foi a primeira ocasião em que a musicalidade urbana dos Da Weasel se deixou acompanhar por arranjos orquestrais. O mesmo Rui Massena tinha já dirigido a Orquestra Clássica da Madeira quando em Setembro do ano passado esta acompanhou os Da Weasel ao vivo no Funchal. No domingo, além de repetirem a experiência pouco habitual, encerraram uma longa digressão que vem decorrendo desde que em 2004 editaram Re-Definições.

Ocultos ainda por um pano, os músicos ultimavam pormenores. Ao apagar das luzes, um crescendo instrumental épico e a abertura, com Força. Pacman e Virgul vestidos para a ocasião e o maestro Rui Massena no meio, com a orquestra ainda a procurar o balanço certo para corresponder ao ritmo imposto pelos Da Weasel, enquanto se sentiam alguns desequilíbrios sonoros. É certo que, aos milhares que se apresentaram junto à Torre de Belém (óptimo espaço para concertos ao ar livre), bastava a presença de Pacman e companhia para justificar a presença naquela noite de concerto. Não nos esqueçamos que estes são os Da Weasel, uma das mais bem sucedidas bandas do panorama pop português, com vendas generosas e concertos sucessivamente repletos. A resposta da multidão foi, portanto, sobretudo dirigida aos autores das canções. Mas os Da Weasel souberam reservar espaço para a presença física e visual da orquestra, mais do que para a descoberta musical. Rui Massena vestiu a pele de maestro popstar: ora o víamos perfeitamente concentrado na sua função como, no tema seguinte, estava de frente para o público, de braços no ar enquanto trocava dois ou três passos de dança com Pacman e Virgul. Tal como a secção de metais fazia questão de se levantar quando o ritmo assim o requisitava.

Musicalmente, nem sempre a presença da orquestra se revelou como o momento de reinvenção que poderia ter sido. Os Da Weasel apostaram num alinhamento que variou entre momentos menos presos à força do ritmo (como a apresentação de temas nunca antes interpretados ao vivo - A Adicção e uma faixa escondida do álbum Iniciação a Uma Vida Banal - O Manual) e os sucessos temperados a hip hop enérgico (de Outro Nível a Tás na Boa). Mas em ambas as faces do concerto, a Orquestra Sinfónica fez-se ouvir sobretudo entre os espaços vazios, reforçando ambientes e ritmo, mas sem abrir as portas para a reinvenção dos temas, para que estes descobrissem nova personalidade. Missão cumprida no que toca ao entendimento entre as duas linguagens mas há ainda caminho a desbravar nesta enriquecedora experiência.

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