Uma corrida contra o tempo
A discussão do Orçamento do Estado peca por atraso. As eleições antecipadas fizeram derrapar a apresentação e discussão do documento, cuja votação na generalidade acontece hoje. Já a votação final global será só a 27 de maio. O atraso é mau para o país, representa meio ano de gestão em duodécimos e, na prática, passaram seis meses sem que vejamos grandes alterações de fundo ao Orçamento do Estado para 2022.
Ainda assim, há a sinalizar o anúncio feito ontem pelo primeiro-ministro de que já na segunda-feira entra em vigor a descida do ISP - Imposto sobre Produtos Petrolíferos, no equivalente à redução de 62% da subida (não do preço, mas da subida) do preço da gasolina e 42% da subida do valor do gasóleo sofrido pelos consumidores desde outubro. A oposição diz que sabe a pouco e que a guerra requer mais do que simples retoques.
A inflação que mantém a tendência de subida fará com que os portugueses percam poder de compra, mas, curiosamente o Estado vê engordar as receitas por esse efeito, ainda que possa ser "de curto prazo", como defende o Conselho de Finanças Públicas. De curto, médio ou longo prazo - na verdade só Vladimir Putin saberá dizer -, o que é certo é que os portugueses ficam mais pobres. A carne, o leite, o pão, as rações, a energia, tudo está mais caro e os salários no privado estão na mesma e na função pública não crescem o suficiente para acomodar esse efeito. Quanto à almofada financeira que fica do lado dos cofres públicos, resta saber como será usada pelo governo. Aliás, na entrevista que Luís Montenegro dá hoje ao DN e à TSF, o candidato à liderança do maior partido da oposição pergunta precisamente pelo tema: "Como vai o governo usar essa almofada?". E deixa uma proposta: "Seria útil estudar a possibilidade de dar às pessoas [de menores rendimentos] um valor, um vale, para que possam utilizar o dinheiro dessa folga orçamental para o acesso a bens essenciais, nomeadamente à energia e ao cabaz alimentar, que são aquilo que no dia a dia mais preocupa e apoquenta os portugueses que têm mais baixo rendimento". O social-democrata, opositor de Jorge Moreira da Silva na corrida ao PSD, conta nas páginas do DN e na antena da TSF ao que vem com a sua proposta de liderança do partido e como pretende fazer oposição à maioria absoluta.
A incerteza é muita, a guerra essa continua. Está instalada uma corrida contra o tempo e contra a amplitude dos efeitos económicos de um confito que é de todos os europeus.