Uma coroa com 7kg, muito ouro e 3 dias de festa. Rei da Tailândia foi finalmente coroado

Quase três anos depois da morte do pai, o rei Vajiralongkorn da Tailândia foi finalmente coroado este sábado. As cerimónias decorrem até segunda-feira.
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Com casaco e calças bordados a ouro e uma coroa de ouro que pesa 7,3 quilos, o rei Vajiralongkorn da Tailândia foi finalmente coroado este sábado numa sumptuosa cerimónia no Grande Palácio Real, em Banguecoque, quase três anos depois de ter sido proclamado rei após a morte do seu pai, Bhumibol Adulyadej.

O monarca de 66 anos foi acompanhado pela mulher, a rainha Suthida, general da força de segurança do palácio e ex-comissária de bordo, com quem casou na semana passada. Para além de Suthida, estiveram ainda presentes membros do Governo e do Conselho Privado do rei. Pelo menos 10 mil membros das forças de segurança foram mobilizados em torno do palácio, onde as cerimónias de coroação durarão até segunda-feira com um orçamento de mil milhões de bat (cerca de 27,9 milhões de euros).

A última coroação no país aconteceu há 69 anos. Esta semana semana, o Grande Palácio preparou-se a rigor para a cerimónia que incluiu rituais budistas (a religião predominante no país), mas também alguns rituais bramani (da religião hindu). Este sábado, Depois das cerimónias religiosas, o rei Rama X da Tailândia passou para a sala do trono onde recebeu uma espada incrustada com pedras preciosas, um cetro de madeira e ouro, um leque, um chicote de pelo de elefante, chinelos bordados com fios de ouro e a Grande Coroa Vitória ". Com uma altura de 66 centímetros e pesando mais de 7 quilos, a coroa é feita em ouro e cravejada de diamantes. Como é tradição desde Rama IV, foi o rei que colocou a coroa na sua cabeça.

Apesar dos 38 graus, muitas pessoas saíram à rua para festejar a coroação. Mas as celebrações públicas serão apenas domingo, quando a população deverá participar num desfile de celebração do novo rei, em que participarão também os vários ramos das forças armadas e serão disparados 21 tiros de canhão. São esperadas 200 mil pessoas neste desfile. Finalmente, na segunda-feira, Vajiralongkorn aparecerá numa das varandas do Grande Palácio para saudar a multidão e "receber os desejos do povo".

O facto de a coroação acontecer quase três anos após a morte do anterior rei não é estranho, explicou à CNN Thitinan Pongsudhirak, professor de ciência política da Universidade de Banguecoque: Vajiralongkorn precisava de tempo para fazer o luto do pai e para preparar o evento. "A coroação oficial irá solidificar a realeza e aumentar a sua aura como rei", explicou. Esta coroação não trará poderes adicionais ao rei, mas só a partir de agora ele será visto como monarca de pleno direito - e já se poderá sentar debaixo do guarda-chuva sagrado, de nove andares, que representa a ligação especial do monarca com o céu. Desde 1932 que o país é uma monarquia constitucional mas o rei continua a ter grande poder e influência e é visto como o "protetor espiritual" do seu povo.

Quem é o novo rei da Tailândia?

Vajiralongkorn, décimo monarca da dinastia Chakri, foi proclamado rei em dezembro de 2016, três meses após a morte de seu pai, o rei Bhumibol Adulyadej, que reinou por sete décadas. O rei, de 66 anos, deverá enfrentar comparações em relação ao seu pai, que foi muito trabalhador e profundamente respeitado pelos tailandeses.

Vajiralongkorn raramente aparece em público e passa longos períodos no estrangeiro (sobretudo na região de Munique, na Alemanha, onde é proprietário de uma luxuosa mansão), pelo que conquistar a sua posição entre a população tailandesa poderá levar tempo.

"O rei Vajiralongkorn tem um estilo de vida muito diferente do do seu pai", explicou ao The Guardian Patrick Jory, professor de História da Ásia na Universidade de Queensland. "Quando ele atingiu a maioridade a monarquia tinha acabado de ser restaurada na política tailandesa. Ao contrário do seu pai, passou a maior parte da sua vida no exército e está acostumado a dar ordens e a fazer com que lhe obedeçam, mas carece do carisma do pai."

Como o seu pai e a maioria dos membros da família real tailandesa, Vajiralongkorn foi enviado muito novo para o ocidente para ser educado, frequentando uma escola em Sussex aos 13 anos e depois o colégio interno de Millfield em Somerset até os 17 anos. Mudou-se para a Austrália, para frequentar o Royal Military College em Canberra, onde se graduou como tenente em 1976. Grande parte de sua vida foi passada como oficial do exército real da Tailândia.

Apesar disso, muitos questionam a sua capacidade para assumir o trono e foi várias vezes acusado de estar envolvido em atividades ilícitas. Num raro encontro com a imprensa, em 1992, Vajiralongkorn defendeu-se: "Eu pareço um chefe da máfia? Se fosse, já seria milionário."

Vajiralongkorn - cujo nome significa "adornado com joias ou raios" - também se tornou conhecido pela sua "colorida" vida pessoal colorida. Numa viagem aos EUA em 1982, a mãe descreveu-o como "um pouco Juan ". Foi casado quatro vezes, passou por complicados processos de divórcio e tem sete filhos por três mães diferentes. A atual esposa de Vajiralongkorn, com quem ele se casou esta semana para garantir seu título de Rainha mas com quem mantém uma relação desde 2014, é uma ex-comissária da Thai Airways que foi promovida a vice-comandante da sua unidade de guarda-costas e depois a general em 2016.

Amante de ciclismo e de carros desportivos, Vajiralongkorn é também piloto de aviões e proprietário de um Boieing 737 que ele pilota regularmente.

Indulto em massa

Para celebrar a coroação, na sexta-feira, Vajiralongkorn aprovou um decreto real que concede um indulto em massa, que poderá beneficiar centenas de prisioneiros tailandeses.

"O rei está consciente de que a auspiciosa ocasião da coroação é considerada um evento especial e, num ato de graça real, considerou adequado conceder indultos para presos que lhes dão a oportunidade de ser bons cidadãos que fazem boas ações para o futuro da nação", refere o decreto publicado na Gazeta Real. Desconhece-se o número de preso que poderão beneficiar do indulto, que entrará em vigor a partir de sábado.

Segundo o decreto real, os beneficiados serão, entre outros, condenados em liberdade condicional, os maiores de 60 anos que têm de cumprir menos de três anos de pena ou os menores de 20 anos que tenham sido condenados pela primeira vez e tenham cumprido metade das suas sentenças.

Por outro lado, os condenados à morte verão a sua sentença comutada para prisão perpétua, contanto que não tenham beneficiado de um indulto anterior.

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