Uma cláusula contra Trump e os exemplos de Biles e Djokovic
Putin afasta opositora das presidenciais e promete ficar até 2036
Apelou à paz na Ucrânia e defende uma Rússia "humanitária, pacífica, amigável e pronta a cooperar com todos, com base no princípio do respeito". Estes já são dois motivos mais do que suficientes para que a recusa da candidatura de Yekaterina Duntsova às presidenciais russas de março do próximo ano não tenha surpreendido ninguém. A antiga deputada regional, ex-jornalista e advogada, que se destacou como crítica do Kremlin, viu a Comissão Eleitoral Central recusar-se a aceitar a sua nomeação a candidata presidencial, apresentada por um grupo de apoiantes, alegando erros nos documentos, incluindo ortográficos. O seu currículo como opositora não passou no crivo do regime, ao contrário dos sete candidatos que irão mesmo disputar a presidência com o atual chefe de Estado, Vladimir Putin, que já confirmou a recandidatura. Algum tem alguma hipótese de vencer? Nem por isso. E de nada servem as denúncias de vários opositores de que a Comissão Eleitoral rejeita o registo de candidatos que representem um maior risco eleitoral para Putin - tudo indica que o homem que está à frente dos destinos da Rússia desde 2000 (como presidente ou primeiro-ministro) ali promete continuar até 2030... ou 2036.
Guerra em Gaza cancela festividades em Belém
Na Praça da Manjedoura, ali perto da Basílica da Natividade, onde se acredita que Jesus tenha nascido, o Presépio tem, este ano, um Menino Jesus envolto numa mortalha branca, em homenagem aos milhares de crianças mortas nos bombardeamento em Gaza. À sua volta, arame farpado e escombros tornam ainda mais triste e sombria esta cena da Natividade. Este ano, com as forças israelitas a prosseguirem a sua ofensiva contra a Faixa de Gaza, em resposta ao ataque do Hamas contra Israel a 7 de outubro, em que morreram 1200 pessoas e 240 foram sequestradas, segundo números de Israel, e que já fez mais de 21 mil mortos no território palestiniano, na contabilidade das autoridades de Gaza lideradas pelo Hamas, as autoridades decidiram cancelar as celebrações natalícias, exceto as estritamente religiosas. E nem ver as multidões que se costumam juntar nesta época naquela cidade da Cisjordânia que vive habitualmente do turismo (70% das suas receitas dependem dos visitantes). Uma noite triste numa época que costuma ser de festa numa zona do mundo habituada aos conflitos, mas onde esta guerra parece não ter fim à vista.
Na Ucrânia, Natal unido no dia 25 para ortodoxos e católicos
A decisão foi tomada em julho pelo presidente Volodymyr Zelensky e tinha um objetivo claro: afastar ainda mais culturalmente a Ucrânia da Rússia. Este foi, portanto, o primeiro ano em que ortodoxos e católicos ucranianos celebraram juntos o Natal, a 25 de dezembro, com os primeiros a anteciparem os festejos que se cumpriam tradicionalmente a 7 de janeiro. "Todos nós celebramos o Natal juntos. Na mesma data, como uma grande família, como uma nação, como um país unido", sublinhou Zelensky na sua mensagem de Natal. Sintomática do desejo de afastamento simbólico de Moscovo, a mudança de data para celebrar o Natal também reflete a cisão com a Igreja Ortodoxa Ucraniana, que responde ao Patriarcado de Moscovo e cujo patriarca, Cirilo, tem sido um feroz defensor do presidente russo, Vladimir Putin. Os festejos não pararam os ataques, mas num momento em que a Ucrânia está a ser relegada para segundo plano nos telejornais pelo conflito em Gaza, e quando surgem brechas no apoio ocidental a Kiev, as notícias deste Natal inédito foram muito bem-vindas.
Lisboa acorda para montanhas de lixo e no Ano Novo há mais
Papéis de embrulho amarfanhados, caixas vazias de brinquedos e outros presentes e muitos, muitos sacos de lixo, mais ou menos coloridos. Foi para este cenário, de verdadeiras montanhas de lixo aglomeradas junto aos locais de recolha, que os lisboetas - e não foram os únicos - acordaram neste dia 26 de dezembro. Como é hábito, a Câmara Municipal de Lisboa deu folga aos funcionários da recolha do lixo na noite da Consoada e no Dia de Natal, mas a felicidade dos cantoneiros contrasta com o desagrado dos moradores da cidade. "É uma situação que se repete todos os anos. E chega a ser agravada, se houver greves para além dos dias de descanso que são dados aos funcionários da recolha de lixo", denuncia ao DN Luís Paisana, presidente da Associação de Moradores da Misericórdia, freguesia no coração de Lisboa, onde se situam muitos estabelecimentos de diversão noturna, por exemplo no Bairro Alto e Cais do Sodré. Questionada pelo DN, a Câmara garantiu ter havido "serviços básicos de resposta operacional de higiene urbana a trabalhar no dia 25". Mas logo esclareceu que no Ano Novo a recolha de lixo voltará a ser suspensa entre as 20.00 de 31 de dezembro e as 06.00 de 2 de janeiro. E o cenário deverá repetir-se.
Dia de adeus a Schäuble, Odete Santos e Delors
Um foi um dos defensores da unidade alemã que ficou conhecido nos últimos anos como impulsionador das políticas de austeridade que dividiram a Zona Euro, outro ficou associado a algumas das mudanças - do euro, a Schengen, ao Erasmus - que levaram a uma União Europeia como a conhecemos hoje, mas perdeu a oportunidade ser presidente da França, e outra foi a principal protagonista na Assembleia da República da luta de 25 anos pela despenalização do aborto em Portugal. Wolfgang Schäuble, Jacques Delors e Odete Santos morreram todos no espaço de 24 horas, deixando o mundo um pouco mais pobre neste final de 2023 com a perda de três figuras díspares, mas incontornáveis da História Europeia e Portuguesa. Três adeus num ano de muitos mais, em todas as áreas, de Henry Kissinger a Tina Turner, de Martin Amis a Sandra Day O"Connor, de Rui Nabeiro a José Mattoso, de Teodora Cardoso a Sara Tavares.
Biles e Djokovic, muito mais do que os desportistas do ano
Com o fim do ano a chegar, é hora de balanços. Há quem faça listas dos melhores livros, dos melhores filmes ou quem recorde os mortos dos últimos 12 meses. Nesta quinta-feira, o diário desportivo francês L"Équipe, decidiu destacar na sua capa as duas figuras do ano no desporto: Simone Biles e Novak Djokovic. A ginasta americana - vencedora de 27 Medalhas de Ouro - pela sua "espantosa consagração nos Mundiais após dois anos de ausência", o tenista sérvio - vencedor de 24 Grand Slams - pelo seu "ano estratosférico". Ora se me confesso pouco seguidora da atualidade desportiva, sobretudo se por tal se entender "futebolística", sempre gostei de ténis e muito me deleitei com aquelas finais intermináveis entre Djokovic, claro, mas também Nadal ou Federer, e passei muitas horas a ver com espanto Biles a "voar", seja na trave ou no solo, incapaz de fechar a boca perante os movimentos capazes de desafiar os limites humanos da americana. Goste-se mais - e aplaudo o regresso de Biles após uma pausa para tratar da sua saúde mental - ou menos - a posição anti-vacinas radical de Djokovic não me convence - estes dois grandes nomes do desporto merecem a homenagem.
A Cláusula de Insurreição ameaça ou ajuda Trump?
Depois do Colorado, agora foi o Maine a recorrer à secção 3 da 14.ª emenda à Constituição dos EUA para travar a candidatura de Donald Trump às presidenciais de 2024, retirando o seu nome dos boletins para as primárias republicanas. Para tal, recorreram à chamada Cláusula de Insurreição, ratificada em 1868, três anos apenas após o final da Guerra Civil Americana e que pretendia garantir os direitos cívicos de antigos escravos, mas também prevenir antigos altos responsáveis dos Confederados de voltarem ao poder como membros do Congresso, retomando o controlo de um Governo contra o qual se tinham rebelado. Ambas as decisões são passíveis de recurso e o Supremo Tribunal Federal deverá determinar se a cláusula se aplica ao ex-presidente devido aos seus atos após as eleições de 2020, quando alegadamente incentivou uma multidão de apoiantes a invadir o Capitólio onde ia ser confirmada a vitória de Joe Biden nas presidenciais. Para já Trump está a usar estes novos problemas legais a seu favor: apresentando-se como vítima de uma cabala política. E as sondagens continuam a dá-lo à frente de Biden.