Uma Bela e o Monstro com atores reais e muita magia

O novo "A Bela e o Monstro" está nas salas a partir de amanhã. Depois de "La La Land", eis outra essência do género musical.
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Emma Watson foi a primeira a afirmá-lo em entrevistas: este A Bela e o Monstro é "descaradamente romântico". E se, de facto, isso já era qualquer coisa inerente ao clássico de animação, não há como contrariar o peso de tal atributo numa versão com atores reais, de brilho no olhar e rodeados de um tremendo aparato cénico. No que toca aos resultados de bilheteira, também se espera que não sejam tímidos...

A estreia mais aguardada por estes dias, que só nos Estados Unidos se prevê ultrapassar os 120 milhões de dólares no primeiro fim de semana, pode vir novamente a bater recordes em relação aos anteriores relançamentos da Disney. Afinal estamos a falar do regresso de uma das mais amadas produções do estúdio, que nos Óscares de 1992 se tornou a primeira longa-metragem de animação a ser nomeada na categoria de melhor filme. Além disso, vale a pena lembrar, ganhou duas estatuetas: melhor canção (homónima do filme) e banda sonora original, de Alan Menken, com letras de Howard Ashman.

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Em A Bela e o Monstro de Bill Condon, a música continua a ser, pois claro, o grande motor da fantasia e uma marca específica do universo Disney. Com as canções originais, a que se somaram algumas novas (também de Menken, mas com letras de Tim Rice), o realizador de Dreamgirls mostra como se dá vida e cor a um castelo moribundo.

Por exemplo, na famosa cena do jantar de Bela, em que a louça e as iguarias transformam a solenidade do aposento numa festa garrida, ao som da canção Be Our Guest, não há limites para a criatividade. Inspirado nas coreografias de Busby Berkeley, este é um daqueles momentos que se conservam sobretudo na memória da retina.

Já na memória afetiva, permanece a história baseada no conto de Jeanne-Marie Leprince Beaumont, sobre uma jovem destemida e curiosa (sempre agarrada aos livros), que se fez prisioneira de um monstro para salvar o pai. O feitiço da rosa também continua o mesmo, votando aquele que outrora fora um príncipe, à eternidade na pele de um monstro, caso ninguém encontre nele o amor para além da rude aparência. Esse, sabemos, é o destino de Bela, e Emma Watson agarra-o com a simultânea força e graciosidade da personagem que há mais de 25 anos encanta o imaginário da Disney.

Por seu lado, o Monstro (Dan Stevens) procura dizer tudo o que guarda na alma através dos intensos olhos azuis, tal como Jean Marais em A Bela e o Monstro (1946) de Jean Cocteau. Só através deles é possível transpor a fisionomia animalesca e alcançar as emoções.

O alegre LeFou de Josh Gad

Apesar de serem estes os protagonistas, muita tinta tem corrido antes sobre a catalogada personagem gay do filme: LeFou, o criado do arrogante pretendente de Bela, Gaston. Ora, contra o supérfluo falatório que se gerou, e no eco do filme de animação, é importante sublinhar que LeFou, interpretado por Josh Gad, não é mais do que uma justa réplica da personagem tresloucada da Disney, aqui apenas com maneirismos que alimentam a comicidade das situações e permitem novas leituras... Se daí é necessário fazer um caso, isso depende naturalmente das perceções de cada um.

Entretanto, não podemos esquecer o virtuosismo do elenco escondido nos objetos falantes do castelo, como o charmant candelabro Lumière (Ewan McGregor), o relógio Cogsworth (Ian Mckellen), ou o bule Mrs. Potts (Emma Thompson), sempre acompanhado da amorosa chávena-criança Chip (o estreante Nathan Mack). Estas personagens são daqueles magníficos apontamentos narrativos que só existem nas produções da Disney - não estavam no conto de Leprince Beaumont - e recordar isso é compreender a dimensão inovadora do estúdio. É possível imaginar tanta vitalidade neste romance melancólico sem a presença de tais figurinhas?

Seguindo essencialmente as linhas mestras da animação de Gary Trousdale e Kirk Wise, o grande investimento do filme de Condon é nas possibilidades do digital. E se poderíamos ter receio de que isso roubasse o coração à história, a verdade é que lhe serve muito bem a expressividade e o ímpeto de encenação barroca. Depois deste, esperemos que o já anunciado live action de O Rei Leão não desiluda.

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