Uma aposta no Sudeste Asiático para reduzir dependência da China
Taiwan procura um novo modelo e um novo motor para o crescimento económico, que reduza a dependência face à República Popular da China (RPC), reforce a competitividade perante a Coreia do Sul e permita a afirmação das suas empresas no Sudeste Asiático e na Ásia do Sul. São estas as prioridades para o ciclo político iniciado com a vitória do Partido Democrático Progressista (PDP) e de Tsai Ing-wen nas eleições gerais de 16 de janeiro, como foi explicado por Shien-quey Kao, ministra-adjunta e responsável pelo Conselho para o Desenvolvimento Nacional, num encontro com jornalistas internacionais em Taipé, em que esteve presente o DN.
"Taiwan depende fortemente da economia" da RPC, notou a governante. Uma dependência que Pequim não hesita em utilizar como instrumento de pressão, como está a suceder desde a tomada de posse da nova presidente, em maio. A RPC reduziu o número de autorizações para viagens a Taiwan, um recuo de 10% face aos números do ano passado. O equivalente a uma diminuição de 0,1% do PIB de Taiwan.
Na origem da decisão de Pequim está o facto de Tsai Ing-wen não utilizar a expressão "o consenso de 1992" para se referir às relações entre Taiwan e a RPC. A nova presidente prefere a expressão "os factos de 1992", o que é interpretado como uma tomada de posição independentista. Em 2015, o presidente da RPC, Xi Jinping, advertiu que se verificaria um "terramoto" nas relações bilaterais, se o poder político em Taipé seguisse esse caminho.
Além desta circunstância, a desaceleração da economia da RPC e a redução da procura interna vieram colocar Taiwan numa encruzilhada. Se 40% das exportações vão para a RPC e se este país é o principal destino do investimento de Taiwan, a presente conjuntura obriga à procura de novos mercados, até para "reduzir a dependência do mercado da RPC", disse Shien-quey Kao. Para isso, foi concebida uma "estratégia virada para o Sul" que põe em relevo "a importância dos mercados do Sudeste Asiático e da Ásia do Sul para as exportações e o investimento", afirmou aquela responsável. Uma estratégia que se estende também aos mercados da Austrália e Nova Zelândia e comporta uma vertente cultural e turística.
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Números divulgados em julho pelo governo de Taipé mostram que os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) são já o segundo principal destino do investimento externo de Taiwan, a seguir à RPC, e onde estão presentes mais de 11 mil empresas deste país. A nova estratégia aponta para uma maior cooperação nas áreas da "agricultura, educação, pequenas e médias empresas", salientou Shien-quey Kao. Outro ponto a desenvolver será o das bolsas de estudo não só com os países da ASEAN como também com a Índia.
"Há que saber encontrar pontos de integração com essas economias. Por exemplo, a Índia é boa em software; Taiwan em hardware. Aqui está um campo a desenvolver", indicou aquela governante.
"Podemos ajudar esses países a modernizar as suas empresas no setor das tecnologias da informação", prosseguiu, salientando que o seu país dispõe de uma importante alavanca: o soft power que resulta do conhecimento, do investimento na educação e na tecnologia que torna Taiwan atrativo para economias em desenvolvimento. Um dos tigres asiáticos - em conjunto com Hong Kong, Singapura e Coreia do Sul, que entre os anos 1960 e início dos anos 1990 conheceram um elevado crescimento económico -, Taiwan tem "produtos de qualidade e mão-de-obra de alta qualidade", notou a dirigente do Conselho para o Desenvolvimento Nacional, mas enfrenta forte competição sul-coreana, país de maior dimensão económica e demográfica. Com uma população de mais de 50 milhões (Taiwan tem 23,4 milhões), a economia da Coreia do Sul assenta, em larga medida, nos mesmos setores que Taiwan: eletrónica, indústrias naval e química, siderurgia e tecnologias de informação. A economia da ilha atravessa uma conjuntura menos positiva. Com as exportações em queda há mais de um ano, as estimativas apontam para um crescimento de 1,1% ou menos em 2016, enquanto a Coreia do Sul pode chegar aos 2,6%.
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*) Em Taipé
O DN viajou a convite do Centro Económico e Cultural de Taipé em Lisboa