Um tempo novo para ser professor

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É do domínio público que 30 000 alunos permanecem sem todos os professores atribuídos. Mas o cenário vai agravar-se com a saída, nos próximos anos, de dezenas de milhares de docentes do sistema de ensino.

Como pode um país não cuidar dos seus professores? Como podemos aceitar que não se consiga atrair os melhores para a docência? É determinante para o nosso futuro haver ação política, imediata e concreta, que faça despontar um tempo novo para ser professor em Portugal.

Aos que estão no ativo é urgente devolver o tempo de serviço que lhes foi subtraído, com adequado impacto nas suas posições remuneratórias. Aos contratados, que preenchem necessidades permanentes, deve-se a passagem aos quadros. Aos deslocados, deve-se a atribuição de um suplemento ajustado aos custos de instalação nas localidades em que são colocados, muitas vezes a centenas de quilómetros de casa. Numa escola cada vez mais diversa, é relevante garantir aos professores o apoio de outros profissionais, que enriqueçam as equipas escolares. Tudo isto é da mais elementar justiça.

Complementarmente, é necessário criar um programa de emergência, de duração limitada, profissionalizando candidatos a professores, oriundos de outras áreas de formação. Serão necessários, naturalmente, elevados padrões de exigência e rigor na sua seleção, em particular no que diz respeito ao conhecimento das matérias a ensinar e domínio da língua portuguesa.

Mas devemos atuar também na formação inicial.

Eça de Queiroz dizia que, para ensinar, há uma formalidade a cumprir, que é saber. Ora, no nosso modelo de acesso ao ensino superior, os cursos de formação de professores contam-se entre os que têm as médias de acesso mais baixas. Ingressam maioritariamente os estudantes com percursos escolares mais frágeis, os que se encontram pior preparados. E será a estes que se exigirá a responsabilidade de preparar emas gerações mais jovens para um mundo cada vez mais complexo e competitivo. Que esperamos para intervir aqui, também?

Para além de sólidos conhecimentos sobre as matérias que vão ensinar e domínio exemplar da língua portuguesa, os candidatados a professores precisam de ter mais contacto com as escolas, as famílias e as comunidades locais durante a sua formação. Em particular, a capacidade de compreender e trabalhar com todas as famílias é essencial num novo tempo para ser professor.

Nos países mais desenvolvidos, os mesmos que são apontados como modelo no que concerne à Educação, a classe docente é valorizada e respeitada. Será coincidência?

A preparação do futuro exige um tempo novo para ser professor em Portugal. Haja coragem política para esse desígnio.


Professor do ensino superior

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