Um silêncio ensurdecedor

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Com uma curta declaração, escrita, e uma clara recusa em prestar declarações na Comissão parlamentar de Inquérito, Rui Pedro Soares deu o trunfo que faltava, até aqui, à oposição - mostrando à evidência a tese, já aqui sublinhada, de que não fora a acusação do caso Taguspark e dificilmente o inquérito teria pernas para andar.

No fundo, o falso silêncio do ex-administrador da PT foi um prémio para os deputados da CPI. Primeiro porque o justifica com o princípio da não "auto-incriminação" - o que só pode querer dizer que alguma coisa está por esclarecer; segundo, porque isentou de culpas o primeiro-ministro, mas admitindo ter invocado o nome dele indevidamente. Ora, só por si, essa declaração é pólvora para o inquérito em curso.
 
Se Rui Pedro Soares invocou o nome do primeiro-ministro, fê-lo com que intenção? E em que contexto? A partir daqui, essas perguntas farão seguramente parte do já famoso guião dos deputados. E com os documentos que estarão para chegar ao Parlamento ajudarão a construir a história do que aconteceu no último ano e meio.

Dir-se-á que um inquérito parlamentar deve, em teoria, fazer prova para acusar alguém. E que, com o silêncio de Rui Pedro Soares, essa prova está mais difícil de fazer. Porém, com as parcas palavras que leu ontem no Parlamento, o também arguido no caso Taguspark deixou no ar, mais do que uma suspeição, um indício de que nem tudo foi claro na tentativa de compra da TVI. Pode não chegar para derrubar Sócrates. Mas também não o ajuda a sair do inquérito como queria: reforçado.

Segundo debate britânico comprova corrida a três

O debate de ontem entre os líderes dos três grandes partidos britânicos foi menos surpreendente do que o primeiro, mas confirmou que a corrida eleitoral este ano é a três. Tanto o primeiro-ministro trabalhista, Gordon Brown, como o conservador David Cameron e o liberal Nick Clegg se esforçaram por explicar a força das suas propostas, mas duas das três sondagens feitas logo a seguir  à emissão davam este último como vencedor. Uma pequena vingança de Clegg, pois as horas anteriores a este segundo embate televisivo foram  marcadas pelos ataques cerrados àquele que fora já o grande triunfador do primeiro debate, sobretudo por parte de jornais pró-conservadores como o Daily Telegraph e o Daily Mail.

O excelente desempenho do líder liberal na inédita troca de ideias a três causou na semana passada um terramoto nas intenções de voto que se reflectia ontem nas sondagens, com os conservadores a liderarem com escassos 33%, o partido de Clegg a seguir com 31% e os trabalhistas com 27%. Uma repartição de votos que, dadas as características do sistema eleitoral britânico e a distribuição geográfica do eleitorado, permitem a Brown sonhar ainda com a vitória, sendo quase certo que a 6 de Maio serão necessários dois partidos para formar um Governo maioritário, o que é surpreendente no Reino Unido.

É o receio de ver fugir uma vitória há muito anunciada que assusta os conservadores (numa das sondagens, a encomendada pelo The Sun, Cameron triunfou por pouco), tanto mais que uma coligação entre os trabalhistas e os liberais não é inimaginável. Chegou a ser falada em 1997, quando não se  previa o triunfo vasto de Tony Blair, e continua possível, dada a proximidade de posições em várias matérias entre os dois partidos. Resta saber se os eleitores, apesar de cansados de Brown e dos maus resultados económicos, vão deixar-se entusiasmar por essa experiência governativa. Têm ainda 15 dias e mais um debate para reflectir.

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