Um recital, duas encenações, ciclo de filmes e várias edições
Com obra reunida em Poemas - Assírio/2005 -, Pier Paolo Pasolini, romancista de Vadios e Uma Vida Violenta, autor de tragédias, via-se como poeta até enquanto cineasta. Confessou ainda que "queria ser compositor de música/viver com instrumentos" (Poeta delle ceneri, 1980, ed. póstuma/Qui je suis, Arléa, 1994). Foi o poeta trágico de Uma Vitalidade Desesperada, quase premonitório "- sou como um gato queimado vivo,/esmagado pelo pneu de um camião,/enforcado por miúdos na figueira".
recital. João Grosso diz ao DN que o recital de amanhã, no D. Maria II (18.30, no átrio, entrada livre), pretende "chamar a atenção para o corpo poético do autor, neste mês dos 30 anos da morte". Fernanda Lapa, Luísa Cruz, Miguel Loureiro, Teresa Sobral e Kjersti Kaasa acompanham-no nesse modo de "passar, da maneira mais clara, ideias e imagens poéticas, em poemas do autor e não só", esclarece. Também ali será lido um excerto do romance inacabado Petróleo e o Requiem por Pier Paolo Pasolini de Eugénio de Andrade.
UMA PEÇA, DOIS ESPECTÁCULOS. O recital antecede a estreia da tragédia Orgia, dia 24, na Sala Garrett. Traduzida por José Vieira Lima e encenada por João Grosso, co-intérprete, com Luísa Cruz e Kjersti Kaasa. Uma "tragédia linguística cruzada com tragédia existencial", escolhida para "falar dos diferendos com a História e da não aceitação da diferença, sexual ou do preto-judeu-monstro, pela sociedade normativa". Orgia, que em 1999 o Teatro Público estreou no Politeama, vai ter duas encenações. A outra é um projecto de Pedro Marques e José Airosa, co-produção Artistas Unidos estreia-se em Viseu (Fevereiro), continua em Lisboa (Culturgest). Pedro Marques, 36 anos, descobriu Pasolini em 1999 na Cornucópia, que estreou Afabulação. "Vi umas 30 vezes e fiquei deslumbrado, com grande paixão por aquele autor e aquele teatro, directo sem ser demagógico, de reflexão nunca moralista". Descobriu o resto da obra depois e traduziu ainda Orgia.
filmes e edições. Essa tradução integrará a edição do teatro completo de Pasolini, durante o ano de 2006, na colecção Livrinhos de Teatro da Cotovia/Artistas Unidos. A Cinemateca faz em Fevereiro um ciclo de filmes do realizador, com algumas cópias restauradas e edição de um catálogo.