Um realismo a três dimensões em que tudo é possível
Sabemos que há motivos para "desconfiar" da evolução recente do cinema a três dimensões. Não por questões conceptuais, muito menos críticas. Antes porque, como muitos espetadores rapidamente perceberam, tem havido um grande número de filmes de tal modo indigentes na utilização do 3D que a sua ostentação parece decorrer apenas de uma lógica oportunista de marketing: ter um novo rótulo promocional e... aumentar o preço dos bilhetes!
O mínimo que se pode dizer de O Desafio é que Robert Zemeckis sabe muito bem o que está a fazer. Ele é, afinal, um dos novos grandes experimentadores do 3D, como o demonstram Beowulf (2007), uma recriação do clássico poema inglês com Angelina Jolie, e Um Conto de Natal (2009), adaptação da história de Charles Dickens.
Dizer que o 3D confere espessura física à travessia no arame empreendida por Philippe Petit é, por certo, verdadeiro. Mas insuficiente: O Desafio ilustra a possibilidade de o cinema, através das novas tecnologias das três dimensões, reconverter a vida orgânica do espaço e, nessa medida, o olhar do próprio espetador face a qualquer coisa que postula a possibilidade de um novo realismo.
O Desafio acaba por pertencer a um lote de filmes de exceção como Alice no País das Maravilhas (Tim Burton, 2010), A Invenção de Hugo (Martin Scorsese, 2011) ou Pina (Wim Wenders, 2011). Para lá das muitas diferenças, aquilo que os une é essa crença muito antiga segundo a qual o cinema, sendo uma visão do mundo, implica também a invenção de um novo mundo.