Um projecto paralelo que nasceu em Lisboa
Na noite de 22 de Julho de 2006, os nova-iorquinos The Strokes tocaram pela primeira (e última) vez em Portugal. Podia ter sido só mais um concerto numa digressão que se prolongava havia quase dois anos. Não foi. Quando o espectáculo terminou, o baterista Fabrizio Moretti conheceu um fã que tinha tocado horas antes no mesmo festival. Chamava-se Rodrigo Amarante e integrava Los Hermanos. Era o início de uma amizade que, mais tarde, estaria na base dos Little Joy, projecto que junta ambos os músicos a Binki Shapiro, a namorada de Moretti. Hoje, o trio estreia-se ao vivo no Teatro Tivoli, em Lisboa, durante o festival Super Bock em Stock.
"Vai ser muito bom voltar a Lisboa e beber um copo à beira-rio, onde eu e o Rodrigo falámos pela primeira vez. Onde passámos uma noite inteira a conversar há mais de três anos", confessava há dias Fab Moretti, ao telefone a partir de Nova Iorque, onde tem estado a preparar o quarto disco dos The Strokes. "Passo metade do tempo em Los Angeles, e a outra metade em Nova Iorque. É uma das vantagens de ter uma namorada de Los Angeles". Refere-se a Binki Shapiro, também dos Little Joy.
Se a música dos The Strokes evoca a Nova Iorque boémia que viu os membros da banda crescer, o som dos Little Joy recupera memórias da Califórnia solarenga onde o trio se reuniu e gravou o primeiro álbum. "Algum tempo depois de nos termos conhecido, o Rodrigo foi aos EUA e ligou-me. Na altura, eu estava em Los Angeles, e ele também, estava a gravar com o Devendra Banhart", lembra Moretti. Foi na casa daquele ícone folk que conheceram Binki Shapiro. "Começámos por compor uma canção enquanto andávamos de carro. De repente estávamos a anotar acordes e a decidir lançar um single. Depois já era um disco".
Não é só na sonoridade do grupo que se sente a influência daquela cidade. "Em Los Angeles tens que te meter num carro para comprar uma fatia de pão. É tudo longe demais. Quando estávamos a gravar o disco, o único bar onde podíamos ir a pé chamava-se Little Joy. Íamos lá beber uns copos e jogar bilhar, para descomprimir. E acabou por dar o nome ao grupo".
Contudo, as influências dos músicos não se gostam num qualquer espaço geográfico. A tradição musical do Brasil de Amarante e do lado materno da família de Moretti também se ouve no disco homónimo do trio. "Queríamos celebrar o tropicalismo, Os Mutantes, Tó Jobim, Elis Regina, Gilberto Gil, Caetano Veloso...", admite o baterista. "Apesar de ter ascendência brasileira, não os conhecia bem até começar com os Little Joy. Conhecia mais ou menos algumas canções, mas não sabia quem eram aquelas pessoas, não percebia o que estavam a cantar, nem porquê".
Logo à noite, o grupo promete tocar algumas versões. Não se sabe quais serão, mas há uma certeza: "não serão canções dos The Strokes ou Los Hermanos".