Um Presidente consensual

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A terminar 2020, a boa notícia do início da vacinação traz a esperança do fim de uma pandemia que custou quase dois milhões de vidas e devastou as economias e o emprego, além de afetar outras importantes dimensões da vida social.

A própria configuração da democracia é, também ela, assente na proximidade física, que está agora limitada. Não apenas o voto é maioritariamente exercido de forma presencial, como o contacto direto dos candidatos com a população (mesmo quando através da televisão) continua a ser um aspeto decisivo na avaliação que os eleitores deles fazem.

A capacidade de ouvir, empatizar e responder espontaneamente aos cidadãos é reveladora das qualidades humanas dos políticos - e bem sabemos como estas são importantes para o exercício de cargos de responsabilidade. A avaliação do carácter dos candidatos anda, por isso, a par com a avaliação das suas concretizações e propostas políticas.

Marcelo Rebelo de Sousa beneficia de uma avaliação positiva em todos essas dimensões. O Presidente dos afetos dessacralizou a função presidencial, aproximando-a das pessoas, em contraste com o estilo distante, severo e até zangado de Cavaco Silva.

Pese embora alguns excessos no desejo de ser próximo e popular, Marcelo soube interpretar aquilo de que o país precisava em cada momento: da ameaça de sanções europeias, quando o Governo teve a ousadia de pôr fim à austeridade, à candidatura de António Guterres a secretário-geral da ONU; dos incêndios de 2017 ao combate à pandemia, o Presidente posicionou-se de forma construtiva, contribuindo para as soluções que mais beneficiavam o país.

Foi esse posicionamento equilibrado que lhe granjeou muitas antipatias junto de uma direita que se radicalizou ideologicamente durante a governação PSD-CDS, mas que agora, a contragosto, não tem alternativa senão apoiar a candidatura de Marcelo. O entusiasmo com o retorno de Pedro Passos Coelho à política é, aliás, sintoma de que essa radicalização se mantém, mostrando como a direita está fora do tempo e fora da realidade.

Os restantes candidatos da direita são, também eles, resultado dessa radicalização: o liberalismo agressivo num caso; o populismo racista no outro.

À esquerda, a grande abrangência de Marcelo, que penetra o eleitorado de todos os partidos, tornou o universo eleitoral escasso.

Ana Gomes, por quem tenho estima pessoal e cujo percurso cívico e político tem vários momentos marcantes, não deverá conseguir passar à segunda volta. Marisa Matias e João Ferreira, que têm como objetivo segurar o eleitorado dos seus partidos, deverão ficar muito aquém das suas ambições.

Marcelo soube ser o Presidente de todos os portugueses, por isso tem o meu apoio.

P.S. - Contrariando a tendência de definhamento da comunicação social e de migração dos meios que resistem para o digital, o DN faz o percurso inverso e regressa à publicação diária em papel. Uma opção corajosa que devemos saudar e apoiar.


Eurodeputado

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