Um onze de presidentes

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Da vizinha Espanha ao irmão Brasil, da europeia Itália aos distantes EUA, onde o futebol é soccer, são vários os exemplos de ex-jogadores que subiram a pirâmide do dirigismo até ao lugar de presidente. Desde os históricos Joan Gamper (Barcelona) e Santiago Bernabéu (Real Madrid) aos bem recentes Alexi Lalas (EUA) e Vryzas (presidente do PAOK Salonica, onde Fernando Santos é treinador), passando pelo "Kaiser" Franz Becken-bauer, que já provou de tudo na Alemanha - jogador, treinador, seleccionador, presidente e administrador . Uma evolução natural no universo do futebol que curiosamente só agora chega ao futebol português, com Rui Costa (Benfica) como exemplo máximo.

Foi campeão do mundo em 1998 e da Europa em 2000 com a camisola dos bleus. Jogou em França, Itália, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, acabando por se retirar em Outubro de 2006, com 38 anos, devido a uma lesão no tornozelo. Em Abril do ano seguinte conseguiu concretizar o seu sonho: tornar-se presidente do clube da sua infância, uma modesta colectividade da comunidade arménia nos arredores de Lyon, onde tem uma verdadeira direcção familiar - o pai, um antigo internacional francês, é o director-geral, um dos irmãos é vice-presidente e outro é jogador do clube.

Um dos mais famosos jogadores romenos nas décadas de 80 e 90. Conhecido por "A Besta", teve passagens por Itália (Fiorentina) e Espanha (Oviedo), antes de regressar ao Steaua para mais sete anos como futebolista. Terminada a carreira, tornou-se treinador, passando por vários clubes e pela selecção, onde foi adjunto depois de ter somado 84 internacionalizações. Em 2005, foi nomeado presidente do Steaua - todavia, não gostou da experiência e acabaria por se demitir passado pouco tempo. Acabou por voltar ao clube como treinador, acabando por ser despedido e regressar antes de rumar ao modesto Vaslui.

Conhecido por ser o fundador do colosso FC Barcelona, já tinha estado na origem do FC Zurique no seu país, onde nasceu em 1877. Chegou a Barcelona em 1899 e, depois de contribuir para o nascimento blaugrana, tornou-se também futebolista e capitão do clube, onde actuou de 1899 a 1903 - conta a lenda que marcou mais de 100 golos nos 48 jogos que disputou, um dos quais a primeira final da Taça do Rei. Com o clube a atravessar dificuldades, torna-se presidente em 1908, cargo que ocuparia em cinco ocasiões diferentes (a última em 1924-25). Acabou por se suicidar em 1930, depois se ser expulso de Espanha por promover o nacionalismo.

Não foi um futebolista de renome, tendo feito apenas 73 jogos como avançado da Real Sociedad nos anos 50. Terminou a carreira nos relvados em 1961, acabando por se dedicar até 1979 à política como membro do PNV (Partido Nacionalista Basco). Chega à presidência do clube de San Sebastián em 1983, herdando uma equipa bicampeã mas a entrar em declínio. Procedeu à renovação do clube e voltou a admitir a contratação de jogadores estrangeiros, algo que já não sucedia desde os anos 60. Avançou com a construção do novo estádio e deixou o cargo máximo em 1992, quando o filho Bittor Alkiza chegou à equipa principal.

Autor de 698 golos com a camisola vascaína, clube no qual se formou e que representou em cinco ocasiões distintas, o antigo avançado avançou para a política assim que se retirou dos relvados, em 1992. Pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) foi eleito deputado estadual, acabando por aderir posteriormente ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), onde conseguiu mais quatro mandatos. Todavia, nunca esqueceu o seu clube e, depois de perder as eleições de 2003 e 2006, conseguiu bater Eurico Miranda em 2008. Está em funções - o Vasco desceu à Série B no primeiro ano, mas está agora de regresso ao Brasileirão.

Chegou ao clube com 14 anos e aos 17 estreou-se na primeira equipa, onde jogou até 1927 - marcando 1200 golos em 16 temporadas. Nos anos que se seguiram, foi dirigente, técnico adjunto e treinador principal, até a Guerra Civil espanhola obrigar o futebol a entrar em pausa. Bernabéu combateu então ao lado dos fascistas, participando na invasão da Catalunha. Quando a guerra acabou, o Real Madrid estava pelas ruas da amargura. Assumiu a presidência em 1943 e daí não saiu mais até morrer, em 1978. Mas a obra ficou feita: o clube foi reestruturado e tornou-se um dos maiores do mundo. Santiago Bernabéu, esse, ficou imortalizado com o nome no estádio.

O antigo central foi um dos mais conhecidos futebolistas norte-americanos, quer pelo seu visual excêntrico - era guitarrista e vocalista da banda Gypsies - quer por ter sido o primeiro da era moderna a jogar na Série A italiana (Pádua). Após terminar a carreira, foi comentador televisivo um ano antes de ser chamado a outras funções: director-geral dos San Jose Earthquakes, presidente e director-geral dos New York/New Jersey MetroStars, presidente e director-geral dos LA Galaxy, tendo sido o responsável pela contratação de David Beckham. Acabou despedido deste último cargo em Agosto do ano passado.

O clube em que o treinador é Fernando Santos provou e... gostou de ter tido um ex-jogador na presidência . Depois de Theodoros Zagorakis, responsável pela contratação do português, ter assumido o cargo em Junho de 2007, numa altura em que o PAOK vivia momentos complicados a nível financeiro, coube, em Outubro deste ano, ao seu amigo pessoal Vryzas - também antigo futebolista - receber o testemunho. Mas esta "tradição" grega já se tinha iniciado em 2004, quando Demis Nikolaidis encabeçou um consórcio que comprou o AEK Atenas, também a viver grave crise económica. O antigo avançado esteve quatro anos na presidência.

Se há clube que sabe aproveitar a experiência dos seus antigos jogadores, esse clube é o colosso bávaro, com Franz Beckenbauer acima de todos. Depois de ter sido presidente do clube desde 1994 (dois anos após ainda treinou a equipa durante pouco tempo, ganhando a Taça UEFA...), passou o cargo para Uli Hoeness (outra antiga glória bávara) no passado mês de Novembro, embora continue a ser presidente honorário. Além disso, o "Kaiser", considerado o melhor jogador alemão de sempre e que passou por todos os cargos possíveis no futebol, é ainda presidente supervisor do Conselho de Administração.

Foi membro do "Grande Inter" dos anos 60, único clube que representou durante a carreira sénior, de 1960 a 1978. Defesa-lateral de elegância extrema, era também um gentleman no relvado e ao longo de toda a carreira foi expulso apenas uma vez... por aplaudir sarcasticamente um árbitro. Terminada a carreira, continuou ligado ao futebol e ao seu clube de sempre, onde foi director técnico, dirigente, embaixador e vice-presidente. Foi eleito para representante máximo do Inter em Janeiro de 2004. Tragicamente, ocuparia o cargo menos de três anos: um cancro no pâncreas foi fatal, falecendo em Setembro de 2006.

É caso para dizer que filho de presidente... sabe presidir. O pai, Lorenzo Sanz, foi dirigente máximo do Real Madrid, mas Fernando, apesar de se ter formado no clube merengue, nunca se conseguiu impor na equipa principal. Defesa-central de recursos limitados, acabou por partir para Málaga em 1999-2000 e aí ficou até 2006. Terminada a carreira de futebolista com a descida à II Divisão, e aproveitando o facto de o pai ter comprado 97% do clube, assumiu a presidência. Ao fim de duas temporadas no escalão secundário - a primeira das quais bem complicada devido à situação financeira - pôde celebrar o regresso do Málaga à Liga.

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