Um novo lugar para os produtos biológicos
O crescimento do consumo de produtos biológicos entre nós é uma realidade que se tornou bastante visível nos últimos anos. Vistos inicialmente como algo para ambientalistas radicais, hoje, sobretudo nos meios urbanos, vê-se cada vez mais pessoas, sobretudo casais jovens com filhos, a interessarem-se por produtos biológicos e a procurarem lugares que os vendam.
Em Setembro do ano passado, um dos produtores biológicos mais conhecidos, Vasco Pinto, abriu em Lisboa uma loja onde, além do que produz nas suas quintas e estufas em São Pedro do Sul, tem também outros artigos, como azeites, queijos, doces, bolachas, carnes (frango, peru, borrego, vitelão e porco preto), pães, massas, arrozes, temperos, sumos, vinhos, molhos e muito mais, inclusive aqueles mais direccionados para vegetarianos e macrobióticos como tofu, seitan ou cereais como millet, quinoa ou bulgour.
No cimo da Rua do Sol ao Rato, já a chegar a Campo de Ourique, a loja tem um aspecto bem despojado e funcional, com tectos altos e prateleiras à minimercado. Ao fundo, acondicionados nos equipamentos de frio, vegetais e frutas de época, bem como as ervas aromáticas que representam uma das principais vertentes da produção de Vasco Pinto.
"Em novo, o meu pai viveu em Lisboa, onde trabalhou em diversas coisas, como taxista, numa bomba de gasolina, na construção civil, e depois emigrou para a Suíça, onde ficou mais de 20 anos. Foi lá que aprendeu os métodos da agricultura biológica e, quando voltou para Portugal, há sete anos, decidiu começar a fazê-la na sua terra, em Vila Maior, perto de S. Pedro do Sul", conta Ângela, a filha de 20 anos que, além de estudar Agronomia no ISA, em Lisboa, atende os clientes na loja do pai.
Ela própria lembra-se das incompreensões que o seu pai enfrentou quando enveredou por este caminho. "Achavam que as ervas aromáticas eram para os animais. Ainda me lembro de ir entregar 30 molhos ao Intermarché que lá há e voltarem 15. Hoje, vende-se tudo."
Aliás, o produtor fornece actualmente o Grupo Sonae, o Corte Inglés e outras grandes superfícies, bem como o supermercado da Biocoop (cooperativa de produtores biológicos), em Figo Maduro, e lojas especializadas mais pequenas.
Aos sábados de manhã, no mercado de produtos biológicos do Príncipe Real, em Lisboa, o próprio Vasco Pinto, acompanhado pelo outro filho, Ricardo, de 17 anos, e por pessoas que trabalham com ele, não tem mãos a medir para atender os clientes das suas duas bancas.
Outra prova do crescimento deste sector em Portugal é a recente criação da Empório Biológico, uma loja online que faz entrega de produtos ao domicílio em Lisboa (www. emporiobiologico.com, tm. 919 195222), incluindo os de Vasco Pinto.
"Há várias pessoas que vêm cá especialmente fazer compras. Muitas são estrangeiros residentes em Portugal ou casais jovens, mas também temos muita gente aqui do bairro, que vem para as compras do dia-a- -dia, de pão, frutas, hortícolas", diz Ângela Pinto, enquanto recebe algumas clientes que trata pelo nome e que lhe perguntam "o que há hoje?".
Pelos vistos, mesmo entre aqueles que é suposto ligarem menos à agricultura biológica, começa a haver maior interesse por estes produtos. Mesmo a questão dos preços, que desde sempre dificultou a sua expansão, parece estar a ser ultrapassada e a estudante de Agronomia considera que "eles têm vindo a baixar" à medida que aumenta o número de produtores e de consumidores.
Dando emprego a mais de 20 pessoas nos cerca de 20 hectares de terras e estufas onde cultiva os seus produtos, Vasco Pinto tem intenção de aumentar a produção, embora a grande dificuldade, segundo a sua filha, seja o preço dos terrenos , que "estão inflacionados". Será mais um sinal do futuro promissor que tem a agricultura biológica ?