Um novo ciclo
Vivemos um período único na nossa história, não só pelas alterações conjunturais e estruturais resultantes da crise pandémica, mas porque concluímos com êxito a presidência do Conselho da União Europeia (PPUE), coincidindo com um novo quadro comunitário, que possibilitará oportunidades, sem paralelo, em termos de investimento, reformas estruturais e transição para um modelo económico mais competitivo, no qual a inovação, a digitalização e as startups serão fundamentais.
No domínio do empreendedorismo, a PPUE ficou marcada pela forte convergência política entre os 27, materializada na assinatura da declaração "Startup Nation Standards", com o objetivo de harmonizar conceitos e políticas públicas que promovam o crescimento sustentável do ecossistema e a retenção de talento, fazendo da Europa um verdadeiro startup continent. E lançámos também a ESNA - Europe Startup Nations Alliance, a estrutura permanente europeia exclusivamente dedicada à temática das startups, que fará de Lisboa a capital europeia do empreendedorismo.
O contributo português para a Europa não representou uma perda de foco ou de ambição na nossa agenda interna. Mantivemos as medidas de atração de talento, como o Tech Visa, que já permitiu contratar cerca de 2500 quadros altamente qualificados, beneficiando mais de 300 empresas certificadas.
Mas ao empreendedorismo nacional impõe-se um novo ciclo, que consiga concretizar a ambição de dobrar o atual número de startups para 5 mil, atingir o valor de mil milhões de euros de investimento, garantir 50 mil postos de trabalho e alcançar um peso correspondente a 2% do PIB.
A atual perspetiva de controlo da pandemia, por via da vacinação em massa, abre a porta a um novo ciclo de crescimento económico, no qual o PRR proporcionará um volume de investimento sem precedentes em todas as peças do ecossistema. Dentro da componente Empresas 4.0, dedicámos um financiamento específico de 125 milhões de euros repartido entre apoios a fundo perdido a startups com soluções de forte componente digital e verde (90 milhões de euros), vales para incubadoras e aceleradoras (20 milhões de euros) e ao reforço da Startup Portugal (15 milhões de euros). Com verbas adicionais, e através do novo Banco do Fomento, vamos replicar e ampliar modelos de sucesso como o Fundo 200M e o Portugal Tech.
Esta é uma nova etapa num processo longo de investimento continuado e de esforço coletivo, com base no trabalho e no legado de muitas pessoas. Estes investimentos só serão possíveis com uma nova ambição e, acima de tudo, com clareza de objetivos, mais profissionalismo e ainda maior capacidade de entrega de resultados.
O empreendedorismo não é um part-time job nem uma trend para surfar uma vez por ano. É um setor estruturante, que contribui para uma economia baseada no talento, na diferenciação, na incorporação de valor e na inovação.
Neste novo ciclo, estamos em condições de elevar a fasquia, suportada numa nova visão, mais recursos e o compromisso de todos.
Secretário de Estado para a Transição Digital