Um novo capítulo na vida do Palácio Anjos

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maria joão pinto

Peça essencial da arquitectura de veraneio no concelho de Oeiras, o Palácio Anjos, na baixa de Algés, abrirá este ano uma nova página na sua trajectória, desta feita como casa consagrada às artes plásticas. Novo programa de utilização que terá como matriz parte da colecção do galerista Manuel de Brito e que, desse modo, virá enriquecer um projecto de recuperação e reabilitação que se encontrava já previsto no quadro do Proqual - Programa de Requalificação de Áreas Suburbanas da Área Metropolitana de Lisboa.

Se tudo correr como programado, Parque e Palácio Anjos reabrirão portas ao público em Setembro - a intervenção, já em curso, decorrerá numa única fase, envolvendo um investimento da ordem dos três milhões de euros, cobertos, em parte, por verbas daquele programa -, para dar a conhecer o resultado final de «dois projectos que nasceram autonomamente, mas que, a dada altura, e felizmente, se cruzaram», como referiu ao DN Teresa Zambujo, presidente da Câmara de Oeiras.

Uma segunda vida para uma casa que, como outras da sua tipologia, erguidas em Oitocentos ou nos primeiros anos do século seguinte, esteve em vias de perder-se em vários momentos do seu percurso, às mãos de sucessivos planos de urbanização sem lugar para valores de memória (ver texto secundário), como relata Alexandra Antunes e Adrião, no seu livro O Palácio Anjos e a Arquitectura de Veraneio em Algés, editado, no final de 2004, pela Câmara de Oeiras. Um estudo de longo curso, no qual a autora, formada em conservação e restauro e em reabilitação de património edificado, traça a trajectória desta casa e da sua marca pioneira como «primeira edificação grandiosa construída de raiz, na zona ribeirinha de Algés, com carácter de residência de veraneio».

Em linhas gerais, refere Teresa Zambujo, a intervenção agora iniciada manterá as pré-existências e, «como complemento, surgirá um corpo novo, numa linguagem contemporânea». Adossada à fachada norte do palácio, essa ala «funcionará como área multiusos» e a programação a nela desenvolver, embora visando vários públicos, será especialmente vocacionada para a população em idade escolar - na continuidade do projecto de educação para a arte Escolas Verney, promovido pela Galeria/Livraria Municipal Verney, aí se procurará alargar o contacto das escolas com os criadores e a sua obra.

«O projecto Escolas Verney», lembra a autarca, «começou com três escolas, na freguesia de Oeiras, e acabou por ter uma expansão francamente positiva, estendendo-se hoje a todo o concelho. E porque queremos, cada vez mais, que as escolas venham aos espaços culturais, esta nova área do palácio ficará preparada, sobretudo, para elas». Em matéria de funcionamento interno, essa nova ala virá «resolver, também, algumas questões» em matéria de recepção e de acondicionamento de obras de arte de maior porte. No global, o conjunto ficará dotado de quatro salas de exposição (duas delas a título permanente no 1.º piso; temporárias no piso térreo), apoiadas por recepção e cafetaria.

Centro Cultural de Algés e Universidade Sénior Intergeracional de Lisboa e Algés, que se encontravam sedeados no Palácio Anjos, prosseguirão a sua actividade, mas fora dele. «Conseguimos arranjar espaços fabulosos, com maior área útil, nos quais ficarão muitíssimo bem instalados», afirma a autarca. «Não queríamos que se sentissem desalojados, até porque são marcos igualmente importantes no concelho, mas, no quadro desta intervenção, tivemos de encontrar alternativas» que, no caso, manterão ambas as instituições no centro de Algés.

Em matéria de exteriores, e para lá da implantação de novo mobiliário urbano e iluminação, o alargamento da área de acesso livre constituirá uma das mais visíveis alterações a imprimir aos jardins da casa, mediante a transferência do campo de minigolfe para o Parque Urbano de Miraflores. «Com a libertação desses espaços», refere Teresa Zambujo, «a área será superior à que é hoje usufruída, mantendo-se as espécies arbóreas com valor. O apoio de jardim manter-se-á com outras condições, tal como o anfiteatro, muito procurado pelas escolas, e o espaço destinado ao convívio de idosos. Ou seja, pretendemos que as valências que ali existiam serão mantidas, mas com outra dignidade e funcionalidade».

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