Um mundo à nossa espera

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Qualquer processo de internacionalização é um desafio e uma aventura pessoal. Vive-se na primeira pessoa e culturalmente é um desafio à nossa capacidade de ser interpelado, questionado e desafiado. A forma como respondemos a este embate marca o sucesso, ou não, de qualquer tentativa de tornar uma empresa mais global. E percebê-lo é a melhor arma para enfrentar este desafio. A arrogância cultural e até pessoal são obstáculos fortíssimos a uma visão aberta do mundo, do reconhecimento da diferença de culturas, da forma de ser, pensar e estar das pessoas em cada continente, país ou região.

Não basta ver é preciso absorver e a partir daí ter a capacidade de gerir as diferenças maximizando o resultado. É este o grande objetivo da gestão internacional num mundo que procura globalização, mas que quer viver cada vez mais a localização, respeitando os diferentes hábitos e costumes.

Não pode ser também um processo de fuga para a frente imaginando que os problemas que temos no nosso funcionamento no nosso país serão superados pelo processo de internacionalização. Se a empresa não está bem cá dentro nunca resolverá os seus problemas com uma ida lá para fora. Para isso temos de ser bons e temos de saber aquilo em que somos bons. Seremos capazes de responder à pergunta "porque é que os clientes procuram a nossa empresa e os nossos produtos ou serviços?" Esta resposta aparentemente simples é de extrema importância. Aquilo em que somos bons é aquilo que nos distingue e é aquilo que vai permitir internacionalizar a nossa empresa. É como no futebol ou em qualquer desporto, só vão competir lá fora os melhores jogadores, as melhores equipas e as melhores seleções. Nas empresas acontece exatamente o mesmo.

Todo este processo tem formas de condução estudadas e testadas. Não é preciso inventar! Quantas vezes decidimos um processo de internacionalização porque sim, baseados num feeling pessoal, mas para comprarmos uma simples impressora ou computador portátil para a empresa fazemos análises comparativas complicadíssimas, com orçamentos múltiplos e negociações altamente sofisticadas. Infelizmente não estou em muitos casos a exagerar.

DestaquedestaqueUm mundo à nossa espera - manual de globalização, Pedro Alvito. Actual Editora / 94 páginasesquerda

Podemos e devemos analisar e até mensurar todo um conjunto de aspetos de natureza cultural, geográfica, económica e até regulativa/administrativa que decerto irão condicionar a nossa atividade e consequentemente devem ser tidos em conta quando realizamos a nossa escolha.

Investir na Europa, no Brasil, na China ou em África não é a mesma coisa. Tem implicações ao nível do investimento, da formação dos recursos humanos, da legislação, do risco, do retorno do capital investido e também convém não esquecer da gestão do tempo, da distância, das pessoas envolvidas, da língua falada, da religião professada, etc., etc., etc. É um sem número de questões a perceber, a avaliar e a discernir.

Por último a distância não afasta a responsabilidade pela manutenção dos valores, pela ética, pela verdade nas relações e sobretudo pelo respeito pelo outro, pela sua cultura, pela sua história e sobretudo pela sua identidade. É este o grande desafio à nossa cultura centralizada no ideal europeu. Recordo-me que uma vez em Sidney vi um planisfério em que no centro estava a Austrália. Tive dificuldade em reconhecer o mundo que sempre vi e em que sempre vivi, mas era o mesmo mundo visto por outros olhos.

É, pois, possível com base num enquadramento teórico construir uma base de reflexão que ultrapassando o simples palpite ou gosto pessoal permite ao gestor tomar decisões sobre o processo de internacionalização da sua empresa. Escolher um país de internacionalização deve ser mais ponderado do que escolher um simples destino de férias. Deve ser um processo refletido e fundamentado com a perceção de que obriga a ter obviamente recursos financeiros, mas também recursos humanos capazes e com espírito de aventura e sacrifício porque é um processo exigente, mas desafiante. Afinal temos Um mundo à nossa espera.

Professor Universitário de Política de Empresa e autor
Autor dos livros:
Um mundo à nossa espera - Manual de globalização e Manual de Como Construir o Futuro nas Empresas Familiares

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