Um médico contra a frase "o senhor doutor disse"
Diz José Luís Themudo Barata que "desmistificar" é uma das coisas de que mais gosta. Seja no futebol, na medicina ou nas relações afectivas. Este especialista em medicina interna, desportiva e em nutrição esperou dez anos para, em livro, ajudar a simplificar os termos médicos. Depois de incentivar os portugueses a mexerem-se, pede que façam "ginástica mental". Os doentes têm de participar e deixar de justificar tudo com um "o senhor doutor disse".
O Dicionário Médico para Todos vem responder ao que designa por "calamidade nacional". Porquê? "Desde o liceu, as pessoas habituaram-se a não fazer ginástica mental. Os estudantes ficam zangados por ter de marrar, quando bastava verem as palavras para perceber", refere.
Prefixos e sufixos. Percebendo-os, desaparece a convicção geral de que a linguagem dos médicos é hermética e imperceptível. Se os médicos não explicam, também as pessoas não fazem por decifrar o que lhes é dito. "A ciência não resulta por se usarem termos complexos, mas pela capacidade de desempenho. Posso fazer uma consulta complexa e explicar tudo em linguagem simples", diz o médico. Se tivesse de atribuir culpas, Themudo Barata daria ainda um "puxão de orelhas" aos utentes e dir-lhes-ia que "as palavras são descritivas. Não servem para meter medo!" O especialista admira-se, por exemplo, que consigam decorar nomes como Manel ou Zé, que não têm lógica, e não entendam o que é gastroenterologia, a especialidade que estuda o estômago (gastro) e o intestino (entero).
Como comunicador, o médico preocupa-se com as barreiras de comunicação, comuns a tantas áreas. "É isto que se passa nos bancos. Todos nos deparamos com palavras como taxas euribor, spread ou indexação..."
Os bancários, apesar de tudo, não têm de comunicar tanto com as pessoas como os médicos. "Um médico não tem apenas de ter competências de ciências, mas também de comunicação. Infelizmente, a maior parte dos médicos comunica mal", alerta. Porque é que se há-de dizer que "um ciclista fez um traumatismo craniano e não que bateu com força com a cabeça?"
José Luís Themudo Barata, que se considera um homem dos números e um aficionado do exercício físico, lança mais uma "farpa" em declarações ao DN: "O médico ou profissional que não consiga explicar uma ideia complexa em palavras simples é porque, no fundo, não domina bem o assunto."
O conhecimento é útil a todos e as "consultas têm melhores resultados quando se estabelece uma ponte intelectual entre o médico e o doente". A leitura deste livro é só mais um forma de o conseguir.|