Um "líder visionário", um "homem bom". ONU homenageou Sampaio
Um "líder visionário", que dedicou a vida ao bem comum, um "cidadão global" que esteve sempre ao lado dos valores do diálogo e da cooperação, um "homem bom". As Nações Unidas prestaram ontem homenagem a Jorge Sampaio, uma iniciativa promovida pela missão portuguesa na ONU e pela Aliança das Civilizações, uma plataforma criada no âmbito das Nações Unidas e que teve Jorge Sampaio como primeiro alto representante.
"Portugal perdeu um líder extraordinário, um dos seus melhores, o mundo perdeu um estadista que será lembrado pela sua compaixão, empatia e sabedoria. Jorge Sampaio deixou um impressionante legado", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, evocando um "homem bom" que se dedicou a "causas nobres" e a "melhorar a vida das pessoas".
Lembrando o "compatriota" e "amigo", Guterres evocou o trabalho conjunto na luta pela causa da independência de Timor-Leste (Guterres era então primeiro-ministro e Sampaio presidente da República). Um exemplo das "causas justas" que sempre moveram o antigo chefe de Estado, um "cidadão global", nas palavras do líder das Nações Unidas.
Intitulada "Solidariedade não é facultativa, é um dever" - uma citação do próprio Jorge Sampaio, no último artigo que escreveu - a sessão de homenagem em Nova Iorque juntou, além de Guterres, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, contando também com intervenções em vídeo do antigo primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan - os dois (então) chefes de governo que lançaram a Aliança das Civilizações em 2005. O trabalho de Sampaio na consolidação deste fórum e o seu posicionamento de sempre, de apelo à concertação e ao diálogo foram, aliás, um dos aspetos mais sublinhados do legado do antigo presidente da República português, falecido a 10 de setembro último. Isso mesmo destacaram Zapatero e Erdogan, com o primeiro a sublinhar a "expectativa de futuro" da Aliança das Civilizações, surgida no tempo de choque e enfrentamento de culturas que marcou o pós 11 de setembro, criada e "consolidada sob a liderança" de Sampaio. Zapatero referiu também o percurso do antigo presidente na vida política nacional, afirmando que Portugal "ganhou um grande reconhecimento internacional e Sampaio foi decisivo" nessa conquista. Já Erdogan apontou o "notável estadista" que ajudou a Aliança das Civilizações a fazer o seu caminho contra a intolerância. Numa cerimónia em que se repetiram as citações de palavras do próprio Sampaio, como exemplos do seu legado, mas também de caminho para o futuro, mereceu também destaque o papel do antigo líder socialista como enviado especial da ONU na Luta contra a Tuberculose, cargo que assumiu ainda em 2006, depois de ter deixado a Presidência da República.
Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto santos Silva, levou a Nova Iorque a promessa de que Portugal continuará a assegurar apoio aos estudantes refugiados, para que possam prosseguir estudos superiores, e desenvolverá "esforços internacionais" para a implementação de um mecanismo de resposta de emergência de apoio aos refugiados no ensino superior - ou seja, a extensão da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios criada por Jorge Sampaio, depois estendida a refugiados afegãos. O Governo português quer agora que este apoio, especificamente destinado a jovens estudantes, seja integrado entre os instrumentos de apoio e cooperação das Nações Unidas.
Uma intenção à qual Marcelo Rebelo de Sousa veio dar ontem um apoio expresso, garantindo que existe "uma unidade total entre o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo para continuar o projeto do Presidente Jorge Sampaio, dar-lhe força, projetá-lo no futuro". "É uma forma de homenagear o que foi um passo notável dado por esse português, esse grande português. Não tenho dúvidas de que as Nações Unidas serão as primeiras a acolher o projeto que foi apresentado", acrescentou o Presidente da República, que falava em Lisboa, à saída da sede da Academia Portuguesa da História, manifestando-se seguro que António Guterres "não só conhece como adere àquilo que é a proposta portuguesa".