Um Instituto Nacional de Experimentação
Não sei se Nostradamus gostaria de viver nos dias de hoje. Fazer previsões está cada vez mais difícil e prosperar num mundo repleto de incertezas tornou-se num enorme desafio das sociedades modernas. Curiosamente, é um desafio muito familiar para quem anda na batalha do empreendedorismo, onde as incertezas são o pão nosso de cada dia e nos fazem desconfiar de estudos e previsões, obrigando-nos a usar recorrentemente a arma da experimentação, isto é, testar produtos ou serviços reais, com clientes reais, e apurar resultados - bons ou maus - reais.
Em Portugal, o Instituto Nacional de Estatística faz um excelente trabalho e ajuda-nos, sobretudo, a entender o passado. Mas faz-nos falta experimentar o futuro, faz-nos falta um Instituto Nacional de Experimentação, um organismo independente e multidisciplinar, que teria como missão experimentar medidas que possam ter impacto direto no sucesso do país e na qualidade de vida dos portugueses.
Sonho com o dia em que frases como "sobre essa matéria não sei qual o melhor caminho, temos de testar medidas e perceber o que resulta melhor" cheguem ao discurso político. Não sou ingénuo ao ponto de achar que os resultados do Instituo Nacional de Experimentação seriam vinculativos, nem quero transformar políticos em tecnocratas, mas parece-me que temos muito a ganhar se conseguirmos trazer para o debate político alguns resultados reais fruto de experimentação.
Um exemplo simples: o rendimento básico universal. Em Portugal, para discutir este assunto, prevejo 5 prós-e-contras, e 20 debates na Assembleia da República, tudo isto num ambiente crispado, com posições extremadas e com argumentos típicos de uma discussão Sporting-Benfica. No final, que pode demorar anos, aposto que nenhuma das partes apresentará uma única conclusão tangível que ajude a decidir se a medida é positiva, ou negativa, para o País. Holanda e Finlândia fizeram algo que considero mais sensato, e que entra na lógica da missão do Instituto Nacional de Experimentação: avançaram para testes, estão a experimentar, pois só assim, num ambiente real, com pessoas reais, conseguirão perceber o verdadeiro impacto da medida.
Os mais céticos vão argumentar que não podemos usar as pessoas como cobaias. Sou da opinião que podemos, desde que se aplique o mesmo racional dos ensaios clínicos, ou seja, existindo uma comissão de ética que decide se o risco da experiência correr mal compensa, ou não, o eventual benefício futuro que poderá trazer para a sociedade.
"A experimentação é uma forma de compreender medidas antes de uma aplicação a nível nacional", a frase não é de nenhum pseudo-guru empreendedor, mas sim de Stefano Scarpetta, diretor da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que a proferiu num contexto de apoio aos países que estão a implementar programas de experimentação na área de Emprego e Trabalho.
A ideia de criar em Portugal um Instituto Nacional de Experimentação pode parecer algo utópica, mas ganha força quando vemos a própria OCDE a incentivar os países a testarem medidas fundamentais para a evolução da sociedade.
Fundador da startup Tech Snap City