Um imperador de pedra e cal

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O interesse, erudito e geral, pela figura de Napoleão Bonaparte, e os estudos napoleónicos de toda a sorte, são como um rio que nunca seca nem para de fluir, e se torna torrencial em certas datas. Foi assim em 2012, com os 200 anos da invasão e da retirada da Rússia. É assim este ano, com o bicentenário da batalha de Leipzig, da ocupação de Paris pelas forças da Coligação e da abdicação e degredo para Elba. Será assim em 2015, com a comemoração dos 200 anos dos Cem Dias, da derrota em Waterloo e do exílio definitivo para Santa Helena. Em França, a maré da edição e reedição de livros, e de revistas e publicações diversas sobe dia a dia (sem falar nas exposições, congressos e recriações históricas). A Nouvelle Revue d"Histoire, por exemplo, dedicou um número inteiro só à batalha de Leipzig; a Historia fez uma edição onde pesa os sucessos e falhanços de Napoleão nas mais variadas áreas; a Le Figaro Histoire dedicou boa parte do seu novo número ao tema "1814 - Napoleão - A batalha de França"; e a revista de jogos de guerra Vae Victis propôs aos leitores um jogo sobre a batalha de Paris. Livros novos são às dezenas. Criatura da Revolução Francesa, camartelo do Ancien Régime, supremo estratega militar de todos os tempos, parte Prometeu e parte ogre (em Inglaterra, no auge da guerra, dizia-se às crianças que o "Old Boney" viria comê-las se se portassem mal), libertador e reformista esclarecido para uns, tirano megalómano que falhou as promessas de uma nova ordem liberal na Europa para outros (Beethoven apoiou-o, para depois o execrar), Napoleão Bonaparte permanece um dos mais magnéticos, complexos e perenes símbolos de génio militar, voluntarismo político, carisma individual, impulso épico e capacidade de poder concentrados numa só pessoa. E o homem nunca se desvaneceu, nem por trás do cliché da cultura popular, nem da imponência do mito coletivo.

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