Um homem de palavras
Kalaf nasceu em Angola, Benguela, nunca brincou com armas e começou cedo a interessar-se pelas palavras. Tem 29 anos, veio para Portugal em 1994. Primeiro viveu em Almada, depois mudou-se para a Costa de Caparica, mais tarde para Lisboa, onde tem morado entre o Castelo e a Avenida da Liberdade. Quando chegou queria estudar Gestão mas acabou envolvido no movimento hip hop que emergia na altura e decidiu dar o seu contributo lírico, primeiro a escrever para os outros, o que não correu bem, depois como Mc, o que acabou por também não resultar, nas palavras do próprio, por "falta de talento" (o mesmo argumento que usa para justificar o abandono do curso de Gestão). Mas o gosto pela variedade musical que trazia de Angola, e que ia dos Abba a Fela Kuti, abriu-lhe caminho para outras opções. Kalaf teve algumas experiências com grupos de rock, mas acabou por encontrar o território natural na música electrónica com influências de jazz, soul e hip hop. A voz grave e a figura carismática, associadas à sua veia de poeta, transformaram-no numa espécie ícone, mas tudo isso parece diverti-lo. Quem o conhece sabe que o que o move é a curiosidade e a paixão pela música. Para alimentar tudo isso já teve vários trabalhos, um deles apresentou-o ao kuduro. O DJ de uma discoteca onde trabalhava levou-o à Mussulo, onde ouviu pela primeira vez kuduro, há mais ou menos dez anos. Na altura, foi só mais uma das influências recolhidas, mas o seu interesse pelo género acabou por ser decisivo para o Buraka Som Sistema. Apesar de ser angolano, Kalaf só descobriu o kuduro em Lisboa e quando regressou a Angola, em Abril passado, foi matar saudades e conhecer a cena kudurística de Luanda por si: "Em Angola nota-se que o kuduro é som da periferia, um angolano de classe média não sabe o que é o kuduro e torna-se difícil eles aceitarem-no como algo seu". Mas o fenómeno é real e os próprios angolanos começam a descobrir Buraka e com eles o kuduro. Fala com entusiasmo da viagem e está decidido a levar Lil' John e Riot a Luanda para eles conhecerem a "cena por dentro".
Kalaf sempre foi homem de espalhar a palavra de muitas formas, com ou sem música. Actualmente está muito ocupado à procura de novos talentos para a editora Enchufada, tem alguns projectos musicais em andamento, mas está sempre aberto a novas aventuras. No tempo livre, diz que gosta de cozinhar. Saladas são o seu forte. No futuro quer mesmo fazer alguma coisa que misture a poesia a música e a comida.|