Um guarda-redes que foi pastor e dormiu na rua, um violinista poliglota e um sueco. Eis o Irão
Um ex-pastor que dormiu na rua, um violinista poliglota que entende português, um sueco de gema, o dono de restaurante de sushi e um antigo voleibolista apaixonado por cavalos. O que têm em comum estes cinco homens? Pode parecer estranho, mas estão no Campeonato do Mundo, mais precisamente entre os 23 convocados da seleção do Irão, a representar uma nação com 80 milhões de habitantes.
A história foi contada pelo jornalista iraniano Alireza Moharami ao diário desportivo Marca, que quis contar um pouco mais sobre o próximo adversário de Espanha. "Os nossos jogadores não são estrelas, mas a seleção iraniana de futebol é trabalhada como uma grande estrela no país. O selecionador Carlos Queiroz sim, é uma estrela. É incrível que nos tenha conseguido qualificar duas vezes para Mundiais", começou por reconhecer o repórter, que elogiou a luta do treinador português para preparar a equipa da melhor forma possível: "Teve que lutar com os clubes para que cedessem os jogadores com mais antecedência para a preparação do Mundial. Formou uma grande equipa com experiência e juventude."
Essa formação, além de experiência e juventude, contempla futebolistas com uma história de vida única. O guarda-redes titular, Alireza Beiranvand, foi pastor de ovelhas na região de Lorestão, no norte do país. Nos primórdios da carreira, devido a dificuldades financeiras, decidiu dormir na rua, à porta de um clube que lhe tinha dado uma oportunidade para treinar. Antes de se tornar profissional, ainda trabalhou na cozinha de um restaurante de pizzas e foi varredor de ruas.
Se a história de Beiravand conta dificuldades, a do avançado Reza Ghoochannejhad fala de facilidades. Além da facilidade em marcar golos, a facilidade em tocar violino e em falar várias línguas. Fala fluentemente inglês, holandês, persa e francês, e ainda entende alemão, italiano e... português. Também quis deixar futebol para estudar direito, mas o antigo extremo holandês Marc Overmars convenceu-o a conciliar os estudos com a modalidade. A sua cunhada é Sareh Bayat, uma atriz bastante conhecida naquele país do Golfo Pérsico.
Entre os eleitos de Carlos Queiroz, também há um jogador que, até à primeira internacionalização pelo Irão, nunca... tinha visitado o país. O médio Saman Ghoddos nasceu Malmoe, na Suécia, e até chegou a jogar dois particulares pela seleção sueca no ano passado, mas acabou por decidir-se pela pátria dos pais.
Mas há mais: Ashkan Dejagah é amigo próximo de Kevin Prince Boateng e em janeiro abriu um restaurante de sushi em Berlim, Sardar Azmoun chegou a ser convocado para a seleção iraniana de voleibol sub-15 e é um aumante de cavalos, Ramin Rezaeian fez furor na Bélgica ao conduzir um extravagante Lamborghini Aventador com pormenores em ouro e Ansarifard sofria de problemas de autoestima até ser recuperado no Olympiacos por... Paulo Bento.